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Elon Musk quer transformar Twitter em um app que faz tudo; entenda

Bilionário quer superaplicativo que incorpora mensagens, pagamentos e negócios

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Tim Bradshaw
Londres | Financial Times

O plano cheio de vaivéns de Elon Musk para comprar o Twitter por US$ 44 bilhões (R$ 288,8 bilhões) parecia uma jogada impulsiva da pessoa mais rica do mundo.

Mas o presidente da Tesla e SpaceX agora insiste em que a transação faz parte de um plano mestre para lançar um aplicativo que faz tudo, incorporando mensagens, pagamentos e comércio, que ele vem desenvolvendo há mais de duas décadas.

"Comprar o Twitter é um acelerador para criar o X, o aplicativo de tudo", tuitou Musk na terça-feira (4) depois que seus advogados informaram à empresa de mídia social que ele planejava concluir a aquisição ao preço original de US$ 54,20 (R$ 282) por ação. O negócio está condicionado à obtenção de financiamento e ao fim da amarga batalha judicial que Musk vinha travando há meses a fim de abandonar a aquisição.

O bilionário Elon Musk no Met Gala 2022, em Nova York - Dimitrious Kambourius - 2.mai.2022/Getty Images via AFP

Desde que apresentou sua oferta original pelo Twitter, em abril, Musk vinha dizendo que controlar o Twitter era mais uma questão de preservar a plataforma como um espaço aberto para a "liberdade de expressão" –e também de resolver os problemas de spam do site, que aparentemente irritam Musk, um usuário muito frequente— do que uma tentativa de ganhar dinheiro.

No entanto, nos últimos meses Musk deu a entender que tinha um plano maior para o Twitter: transformá-lo na espinha dorsal de um "superaplicativo" ao estilo do WeChat, que funcionaria como um sistema operacional para a vida digital das pessoas.

O "X" mencionado no tuíte de terça-feira parece ser uma referência à X.com, a segunda startup de Musk, que viria a se transformar no PayPal. Em 2017, Musk comprou de volta o nome de domínio X.com, que pertencia ao PayPal. "Nenhum plano, por enquanto", Musk tuitou na época, "mas [o domínio] tem um grande valor sentimental para mim".

Porém, Musk revelou em agosto que na verdade tinha "uma visão maior quanto ao que eu imaginava que a X.com ou X Corporation poderia ter sido, no passado".

"É uma visão bastante grandiosa. E obviamente eu poderia ter começado o projeto do zero", ele disse na assembleia anual de acionistas da Tesla, sem dar mais detalhes sobre o que exatamente o plano implicava. "Mas acho que o Twitter ajudaria a acelerá-lo em três a cinco anos."

O X.com original foi um dos primeiros bancos online, do qual Musk foi um dos fundadores no início de 1999, o auge da bolha original da internet. A primeira startup de Musk, a Zip2, um diretório online de empresas locais, tinha acabado de ser vendida à Compaq por mais de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhões).

Recém-transformado em multimilionário, Musk investiu US$ 12 milhões (R$ 62,4 milhões) —a maior parte do dinheiro que ganhou com a venda da Zip2, considerados os impostos– na criação da X.com. Ele previu que no futuro a empresa se tornaria uma central única para serviços financeiros, de contas bancárias para pessoas físicas a serviços de corretagem e seguros.

Um ano mais tarde, a X.com se fundiu com a rival Confinity, e em 2001, a empresa foi rebatizada como PayPal. Quando este foi vendido ao eBay por US$ 1,5 bilhão (R$ 7,8 bilhões) em 2002, Musk ganhou cerca de US$ 180 milhões (R$ 936 milhões), o que lhe deu poder de fogo financeiro para continuar a investir na startup de carros elétricos Tesla e para construir sua empresa de foguetes, a SpaceX.

Mas ao longo dos anos, Musk vem sugerindo que ele via a X.com como uma oportunidade perdida para criar "o lugar central onde todas as transações acontecem". Ele disse ao seu biógrafo Ashlee Vance que havia até considerado "tentar conseguir o PayPal de volta".

"Se todos os assuntos financeiros de uma pessoa estão perfeitamente integrados [em] um só lugar, é muito fácil fazer transações e as taxas associadas às transações são baixas", Musk teria dito, de acordo com a biografia de Vance, que saiu em 2015. "Por que eles [o PayPal] não estão fazendo isso? É uma loucura."

Recentemente, o PayPal tomou medidas mais ambiciosas para se tornar um "superaplicativo" de pagamentos. Mas o conceito de Musk para fundir o Twitter à X.com parece ir ainda mais longe.

Uma apresentação feita a investidores no início deste ano delineava a visão de Musk para o Twitter, incluindo a criação de serviços de pagamentos entre usuários no estilo PayPal e a redução da publicidade em favor de vender assinaturas a alguns usuários. Ele projetou que mais de cem milhões de usuários fariam assinaturas no serviço X até 2028.

"Na China, as pessoas basicamente vivem no WeChat", disse Musk aos funcionários do Twitter em uma reunião com todo o quadro da empresa em junho, antes de ele tentar abandonar o negócio. "Se conseguirmos recriar isso com o Twitter, seremos um grande sucesso."

Musk não é o primeiro empreendedor de tecnologia dos Estados Unidos a tentar recriar fora da China um superaplicativo ao estilo do WeChat, que funde mídia social e comércio.

Mark Zuckerberg, o presidente da Meta, se esforçou para transformar o Facebook Messenger em uma plataforma para jogos, pagamentos e compras, enquanto Evan Spiegel, da Snap, também tentou tomar o WeChat como base para o Snapchat, por meio de miniaplicativos. Mas nenhum dos dois obteve o mesmo sucesso que o WeChat, que domina a internet da China, com mais de 1,2 bilhão de usuários.

Hoje, os visitantes do site X.com verão apenas uma página em branco mostrando uma minúscula letra X. Mas, se podemos confiar na palavra de Musk –e o lado travesso do empreendedor torna isso difícil –, talvez um dia o serviço se torne muito mais.

Recriar a X.com é "algo que eu imaginava que seria bastante útil há muito tempo", disse Musk em agosto. "Eu sei o que fazer... Acho que será algo muito útil para o mundo."

Ele acrescentou: "Uso muito o Twitter. Não é como se eu andasse por aí querendo adquirir empresas aleatoriamente, ou algo assim."

Tradução de Paulo Migliacci

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