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Porto Digital terá novo centro tecnológico em Portugal

Iniciativa busca reter fuga de mão de obra qualificada para outros países

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Lisboa

Um dos principais polos de tecnologia do Brasil, o Porto Digital de Recife ganhará um hub de inovação em Aveiro, no centro de Portugal. Além de internacionalizar o projeto, a iniciativa também quer estancar a perda de profissionais qualificados para outros países.

"Portugal nos pareceu o lugar mais claro por vários motivos, sendo o primeiro deles a língua e, depois, porque é a porta da Europa. Nós vimos que era mais fácil entrar para competir no continente europeu, que tem espaço para as empresas de software crescerem, do que ir tentar no mercado dos Estados Unidos, que é muito mais competitivo", diz Pierre Lucena, presidente do Porto Digital.

A pandemia da Covid-19 impulsionou a digitalização de vários serviços e acelerou ainda mais o crescimento do Porto Digital, que abriga atualmente mais de 350 empresas, organizações de fomento e órgãos de governo. São cerca de 14,7 mil profissionais e empreendedores, com faturamento anual de mais de R$ 3,67 bilhões em 2021.

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Área de trabalho da startup In Loco Media, instalada no parque tecnológico Porto Digital, no centro histórico do Recife - Bernardo Dantas/Folhapress

Segundo Lucena, a existência de um hub europeu ajudará a contratar talentos que, hoje, não mostram disposição de mudança para Recife, além de atingir em cheio aqueles sentem atraídos pela ideia de trabalhar no exterior. "Tem muita gente que quer morar fora, mesmo que seja só por uma temporada. Com o centro em Aveiro, vamos poder atrair esse profissional", afirma.

Outra vantagem de ter um braço do Porto Digital em Portugal é a possibilidade de acesso aos generosos fundos de inovação concedidos pela União Europeia e outras instituições do velho continente.

"É um ponto muito importante para nossas empresas e nossos centros de pesquisa", diz o executivo. "O Brasil hoje está sem recurso nenhum para inovação. Esse governo que está aí desmontou todos os que tinham. Não tem mais nada."

"Tecnologia precisa de recursos iniciais de fundos sem fins lucrativos, porque a inovação tem riscos. Estados Unidos fazem isso, Israel faz isso", completa o executivo.

A escolha de Aveiro, cidade com cerca de 81 mil habitantes a 75 km de distância do Porto, deveu-se à combinação de boa infraestrutura, de uma universidade com forte componente tecnológico e, principalmente, dos preços mais acessíveis do que nas grandes cidades.

A Câmara Municipal (equivalente à prefeitura) também se comprometeu a apoiar o projeto, fornecendo um prédio para instalar o hub tecnológico, além de facilitar matrículas nas escolas e acesso ao serviço de saúde.

"A ideia é de que as pessoas saiam do Brasil já com tudo acertado. Casa, colégios para os filhos, acesso à saúde. Tudo. É só chegar e começar a trabalhar", diz o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena.

As autoridades municipais se dizem disponíveis ainda para auxiliar na integração dos novos moradores.
"A Câmara Municipal tem o compromisso de cooperar e de apoiar para que as pessoas tenham o tal ‘soft landing’, a chegada tranquila e facilitada", diz o prefeito de Aveiro, José Ribau Esteves, do PSD (Partido Social-Democrata), de centro-direita.

Como Portugal tem um visto especial destinado aos profissionais de tecnologia, os trâmites relacionados à emissão do documento devem acontecer sem grandes sobressaltos para os interessados.

Devido à alta demanda, a questão da habitação pode ser mais complicada. Com um setor imobiliário bastante aquecido, várias cidades portuguesas têm enfrentado escassez de imóveis e aumento de preços.
"A oferta de habitação está a crescer, mas temos também um aumento muito forte da procura", reconhece o prefeito.

"A minha convicção é de que, com o que temos em construção, o aumento da oferta será suficiente para acompanhar o aumento da procura que virá junto com o Porto Digital", diz Ribau Esteves.

Além dos benefícios econômicos, a chegada dos profissionais brasileiros e de suas famílias pode ajudar nos indicadores demográficos de Portugal, que tem uma população envelhecida e com baixa taxa de natalidade.

A emigração de jovens altamente qualificados também é uma realidade portuguesa, ainda que em menor escala do que há uma década, em plena crise econômica.

Embora o mercado de informática tenha uma remuneração superior à média das outras profissões em Portugal, os salários ainda são mais baixos do que em outros países europeus, como Alemanha, Irlanda e França. Por isso, é comum que profissionais portugueses acabem migrando para outros países.

Na avaliação do prefeito de Aveiro, o Porto Digital é uma iniciativa com "sucesso reconhecido internacionalmente", e a chegada dos profissionais altamente qualificados deve ajudar a impulsionar o já crescente ecossistema de inovação tecnológica da cidade.

"Estamos a falar de um setor de enorme crescimento em Portugal, no Brasil e em todo mundo. Portanto, os profissionais vão encontrar muitas oportunidades aqui", avalia Ribau Esteves.

O novo hub também facilitaria o acesso das empresas portuguesas ao mercado brasileiro, através da integração do ecossistema do Porto Digital em Recife.

Além da universidade, onde os estudantes brasileiros formam a maior comunidade estrangeira, a cidade tem também um importante polo de pesquisa em telecomunicações.

A ideia é que o hub comece a funcionar no primeiro semestre de 2023. A data exata, e demais detalhes, devem ser acertados em novembro, quando ocorre uma visita de representantes de Aveiro a Recife.

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