San Francisco recua em permissão para 'robôs assassinos'

Conselho tinha aprovado o uso de robôs com força letal pela polícia

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Eduardo Medina McKenna Oxenden
The New York Times

Enfrentando a reação de ativistas e constituintes, o Conselho de Supervisores da cidade de San Francisco (costa oeste dos EUA) recuaram na terça-feira (6) na discussão de uma política que permitiria à polícia empregar robôs com força letal.

O conselho tinha aprovado originalmente a política por uma votação de 8 a 3 na semana passada. Os defensores da ideia disseram que a medida permitiria que a polícia usasse um robô com força letal em circunstâncias extremas, como quando um atirador ou um terrorista é o risco principal.

Mas uma onda de críticas de que a medida seria muito perigosa parece ter mudado a opinião dos supervisores antes da segunda votação obrigatória, que normalmente reflete a primeira. A reversão foi uma raridade na política da região.

San Francisco, na Califórnia, em meio à crise do coronavírus - Justin Sullivan - 30.mar.2020/Getty Images/AFP

"Estou muito grato a todos os membros da comunidade e líderes dos direitos civis que se manifestaram e persuadiram com sucesso o conselho de supervisores a mudar de rumo", disse em entrevista Dean Preston, um supervisor que se opôs à política de robôs letais na primeira votação.

O conselho votou na terça-feira (6) por 8 a 3 para alterar a política. Embora ainda permita que o Departamento de Polícia use robôs por controle remoto, uma cláusula agora afirma que os equipamentos não podem ser usados com força letal. O conselho aprovou por unanimidade a política conforme alterada.

Os supervisores também enviaram a provisão original do robô mortífero de volta ao comitê de regras do conselho, que pode realizar audiências públicas sobre o assunto e considerá-lo posteriormente.

O Departamento de Polícia não respondeu imediatamente a um email pedindo comentários.

A política foi desenvolvida em resposta a uma lei estadual promulgada no ano passado que exigia que as agências judiciais de toda a Califórnia buscassem a aprovação de seus órgãos governamentais locais para usar equipamentos de estilo militar.

A política proposta no mês passado colocou San Francisco na vanguarda do debate nacional sobre o uso de robôs armados nas cidades dos EUA, enquanto o país enfrenta tiroteios em massa –que, segundo alguns policiais, poderiam ser resolvidos com robôs– e brutalidade policial –que os oponentes dos robôs armados dizem que seria agravado por eles.

Há um precedente de robôs usados letalmente pelos órgãos da lei. Em 2016, o Departamento de Polícia de Dallas (Texas) encerrou um impasse com um atirador suspeito de matar cinco policiais ao atingi-lo com uma bomba acoplada a um robô, no que se acredita ser o primeiro uso letal dessa tecnologia por uma agência policial dos EUA.

Tentando angariar apoio para a política, David Lazar, chefe adjunto do Departamento de Polícia de San Francisco, citou como exemplo o atirador que abriu fogo de um hotel em Las Vegas em 2017, matando 60 pessoas no tiroteio em massa mais mortal da história moderna dos EUA.

A prefeita de San Francisco, London Breed, democrata, expressou apoio à proposta original no mês passado. Seu porta-voz, Jeff Cretan, disse em email na terça-feira que Breed e seus assessores entenderam que haveria um "debate contínuo" sobre os robôs e a força letal.

A maioria dos supervisores foi rápida em reverter o curso esta semana.

Preston disse que seus colegas supervisores ouviram de pessoas em San Francisco e em todo o país que a política proposta "foi um erro".

Na segunda-feira (5), ativistas fizeram uma manifestação contra essa política diante da prefeitura.

Preston disse acreditar que os supervisores que mudaram de ideia na terça talvez ainda não tivessem "pensado necessariamente em todas as implicações" da política.

Um dos supervisores que mudou de ideia, Gordon Mar, do Distrito 4, disse em entrevista que na semana passada ele ficou "cada vez mais desconfortável" com a promulgação de uma lei que "daria o poder da vida humana a um controle remoto".

"Não acho que armar robôs e lhes dar licença para matar nos tornará mais seguros", disse Mar. "Acho que por causa de muitos comentários públicos e da atenção que o assunto recebeu nacionalmente fui levado a pensar nas implicações dessa política e no precedente que San Francisco poderia estar criando."

Hillary Ronen, supervisora do Distrito 9, disse no Twitter que "prevaleceu o bom senso".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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