Google libera acesso ao Bard, concorrente do ChatGPT, nos EUA e Reino Unido

Empresa corre atrás de atraso meses após as estreias das rivais OpenAI e Microsoft

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nico Grant Cade Metz
San Francisco | The New York Times

Por mais de três meses, executivos do Google ficaram assistindo enquanto projetos da Microsoft e de uma empresa de San Francisco chamada OpenAI estimularam a imaginação do público com o potencial da inteligência artificial.

Mas nesta terça-feira (21), o Google começou a deixar para trás sua posição como espectador, ao lançar um chatbot chamado Bard. O novo chatbot de inteligência artificial estará disponível para um número limitado de usuários nos Estados Unidos e Reino Unido, e passará a atender a mais usuários, países e idiomas ao longo do tempo, disseram executivos do Google em uma entrevista.

O lançamento cauteloso é o primeiro esforço público da empresa para tirar vantagem da recente mania por chatbots impulsionada pela OpenAI e pela Microsoft, e seu objetivo é demonstrar que o Google é capaz de oferecer tecnologia semelhante. Mas a empresa está adotando uma abordagem muito mais cautelosa do que a de seus concorrentes, que vêm enfrentado críticas por terem colocado em circulação uma tecnologia imprevisível e, às vezes, pouco confiável.

Escritório do Google em Nova York, nos Estados Unidos - John Taggart - 24.jan.2023/The New York Times

Ainda assim, o lançamento representa um passo significativo para afastar uma ameaça ao negócio mais lucrativo da Google, o seu serviço de buscas. Muita gente no setor de tecnologia acredita que o Google —mais do que qualquer outra grande empresa de tecnologia— tenha muito a perder, e a ganhar, com a inteligência artificial, que poderia ajudar diversos produtos do Google a se tornarem mais úteis, mas também poderia ajudar outras empresas a ganhar espaço no imenso negócio de buscas de internet, dominado pela empresa.

Um chatbot pode produzir instantaneamente respostas em frases completas, que não forçam as pessoas a percorrer uma lista de resultados –diferentemente de um serviço de busca.

O Google lançou o Bard como uma página de web separada e não como um componente do seu serviço de busca, dando início a uma dança complicada para a adoção da nova inteligência artificial enquanto preserva um dos negócios mais lucrativos do setor de tecnologia.

Interface do Bard, chatbot do Google; disponível em inglês, software diz que está sujeito a erros e incentiva feedbacks dos usuários - Divulgação via The New York Times

"É importante que o Google comece a jogar nesse espaço, porque é nessa direção que o mundo se dirige", disse Adrian Aoun, antigo diretor de projetos especiais do Google. Mas a mudança para chatbots poderia ajudar a derrubar um modelo de negócios que depende da publicidade, disse Aoun, hoje presidente-executivo da startup Forward, que opera no ramo dos serviços de saúde.

No final de novembro, a OpenAI lançou o ChatGPT, um chatbot online que pode responder a perguntas, escrever artigos e discorrer sobre quase qualquer assunto. Dois meses mais tarde, a principal investidora e parceira da empresa, a Microsoft, adicionou um chatbot semelhante ao Bing, seu serviço de busca na internet, demonstrando de que maneira essa tecnologia poderia mudar um mercado que o Google domina há mais de 20 anos.

O Google está correndo desde dezembro para colocar produtos de inteligência artificial em operação. A empresa declarou um "alerta vermelho" em resposta ao lançamento do ChatGPT, fazendo da inteligência artificial sua prioridade central. E estimulou equipes dentro da empresa, incluindo pesquisadores especializados em estudos sobre a segurança da inteligência artificial, a colaborar para acelerar a aprovação de uma onda de novos produtos.

Na semana passada, a OpenAI tentou dobrar sua aposta ao lançar uma tecnologia mais recente chamada GPT-4, que permitirá a outras empresas incluir o tipo de inteligência artificial que alimenta o ChatGPT em uma variedade de produtos, incluindo software empresarial e sites de ecommerce.

O Google vem testando a tecnologia que embasa o Bard desde 2015, mas até agora não a tinha lançado a não ser para um pequeno grupo de usuários experimentais, porque, como acontece com os chatbots oferecidos pela OpenAI e Microsoft, ela nem sempre gera informação confiável e pode mostrar vieses negativos contra mulheres e pessoas não brancas.

"Estamos bem conscientes das questões; precisamos levar isso ao mercado de forma responsável", disse Eli Collins, vice-presidente de pesquisa do Google. "Ao mesmo tempo, vemos toda a empolgação no setor e a empolgação de todas as pessoas que estão usando a inteligência artificial generativa".

Collins e Sissie Hsiao, vice-presidente de produto do Google, disseram em uma entrevista que a empresa ainda não tinha determinado uma maneira de ganhar dinheiro com o Bard.

O Google anunciou na semana passada que a inteligência artificial seria colocada em uso em seus aplicativos de produtividade, como o Docs e o Sheets, que empresas pagam para utilizar. A tecnologia subjacente estará também à venda para empresas e programadores de software que desejem construir seus próprios chatbots ou acionar novos aplicativos.

"Ainda estamos nos primeiros dias dessa tecnologia", disse Hsiao. "Estamos explorando de que maneira essas experiências podem se manifestar em diferentes produtos".

Os anúncios recentes são o início do plano do Google para introduzir mais de 20 produtos e funcionalidades de inteligência artificial, noticiou o The New York Times, incluindo um recurso chamado Shopping Try-on e a capacidade de criar imagens de fundo personalizadas para vídeos do YouTube e telefones Pixel.

Em vez de ser combinado com o serviço de busca da empresa, o Bard é uma página autônoma na web com uma caixa para perguntas. No final de cada resposta, aparece um botão "Google it" que conduz os usuários a uma nova aba com uma página de resultados de busca convencionais do Google sobre o assunto.

"O Bard nem sempre vai acertar", diz aviso do chatbot do Google - Divulgação via The New York Times

Os executivos do Google apresentaram o Bard como uma ferramenta criativa concebida para redigir e-mails e poemas e oferecer orientação sobre como envolver as crianças em novos passatempos, por exemplo a pesca. A empresa está interessada em ver como as pessoas utilizarão a tecnologia, e irá aperfeiçoar ainda mais o chatbot com base no uso e no feedback, disseram os executivos. Ao contrário do seu serviço de busca, no entanto, o Bard não foi concebido primariamente para ser uma fonte de informação confiável.

"Pensamos no Bard como um complemento do Google Search", disse Hsiao. "Queremos ser ousados na forma pela qual inovamos com essa tecnologia, mas também queremos ser responsáveis".

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.