Robô expõe empresas que celebram Dia da Mulher, mas pagam menos a elas

Algoritmo no Twitter usa dados do governo britânico para denunciar desigualdade salarial

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São Paulo

"Ações, não discursos. Pare de postar platitudes. Comece a resolver os problemas."

Sob esse mantra, o robô Gender Pay Gap App expõe no Twitter empresas britânicas que falam sobre o Dia Internacional da Mulher, mas pagam menos a suas trabalhadoras do que aos homens contratados.

O funcionamento é simples: organizações inglesas que fazem tuítes com a hashtag #IWD2023 recebem um retuíte informando a diferença salarial por gênero da empresa, capturada por uma base de dados pública sobre salários.

O perfil na rede social, retratado com chapéu de sufragista e faixa reivindicatória pelo fim da desigualdade de gênero, começou a denunciar as diferenças salariais em março de 2021. O robô hoje reúne 234,7 mil seguidores.

Esse perfil de Twitter, retratado com chapéu de sufragista e faixa reivindicatória pelo fim da desigualdade de gênero, começou a denunciar as diferenças salariais em março de 2021 e reúne 234,7 mil seguidores em 2023. A imagem de capa diz: “feitos não palavras. Pare de postar platitudes. Comece a resolver os problemas.”
Robô denuncia disparidade salarial entre mulheres e homens, que afetava 77% das empresas britânicas em 2022 - Reprodução/Twitter

Desde então, a tecnologia expôs grandes organizações: a entidade humanitária cristã World Vision, por exemplo, paga 16,7% a menos para as mulheres; a consultoria Deloitte no Reino Unido, 15%. Universidades, corpos de bombeiros, câmaras municipais e outros órgãos públicos também tiveram sua diferença salarial por gênero divulgada na rede social pelo robô.

Nem sempre, no entanto, as empresas são pegas no flagra. Em alguns casos, acontece o contrário: o grupo de caridade com foco em meninas e jovens mulheres Girlguiding paga 30,5% a mais por hora de trabalho às funcionárias. A rede de cinemas Odeon (do Kinoplex) promove igualdade de remuneração no Reino Unido.

O bot feminista foi criado pela redatora Francesca Lawson e pelo programador Ali Fensome. Ela cuida da estratégia de comunicação; ele, das informações por trás da plataforma. O algoritmo para tratar os dados está disponível na rede social de códigos GitHub.

O robô monitora as contas que fazem publicações com hashtags ou palavras relacionadas ao dia internacional da mulher. A partir de cruzamento de dados, detecta se o tuíte veio de empresa ou entidade e qual o nome dessa pessoa jurídica registrado junto à administração local.

Na sequência, o algoritmo busca informações da companhia alvo no site Gender Pay Gap, lançado pelo Ministério da Mulher do Reino Unido em março de 2017. Naquele ano, o governo britânico tornou obrigatória a divulgação das disparidades salariais por qualquer contratante com mais de 250 empregados.

Nessa base, há informações de 13.638 contratantes —1.223 empresas com menos de 250 funcionários compartilham seus dados de maneira voluntária. A próxima atualização obrigatória está marcada para 4 de abril.

O robô do Twitter não apenas divulga o dado mais recente de disparidade salarial, como também avalia se a desigualdade cresceu, diminuiu ou ficou estável.

De acordo com o site de Francesca Lawson, Gender Pay Gap App foi criado para denunciar que 77% das empresas pagavam melhor a homens do que a mulheres em 2022, embora se engajassem em campanhas de igualdade de gênero no Dia Internacional da Mulher.

O portfólio da redatora britânica destaca resposta à fabricante de lingerie Boux Avenue, que chegou a ter disparidade salarial de 59%, mesmo tendo as mulheres como principais clientes.

No Brasil, as empresas não precisam divulgar a desigualdade salarial de forma explícita. Registros oficiais como a Rais e o Caged permitem inferir a lacuna de remuneração entre homens e mulheres.

O governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT) criou grupo de trabalho para formular legislação para proibir a desigualdade salarial no país. A ministra da Mulher, Cida Gonçalves, afirma que a Lei da Igualdade vai prever penalidades para empregadores que descumprirem a regra e criar mecanismos de incentivo aos que promoverem equidade nas remunerações de trabalhadores e trabalhadoras.

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