Descrição de chapéu
Jemima Kelly

Twitter sob Elon Musk está morrendo de forma lenta e tediosa

Rede social está se tornando muito menos interessante

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jemima Kelly
Financial Times

Se Elon Musk está certo sobre o Twitter ser crucial para o futuro da civilização, então as coisas parecem sombrias para todos nós. As interrupções estão aumentando, as receitas de publicidade caíram e uma empresa que tinha uma força de trabalho de 7.500 funcionários há apenas quatro meses agora emprega apenas 2.000, após mais uma rodada de cortes de empregos.

Quando Musk assumiu a plataforma de rede social, em outubro, a pessoa às vezes mais rica do mundo disse que não estava fazendo aquilo para ganhar dinheiro, mas para "tentar ajudar a humanidade". Ele estava determinado a melhorar o Twitter, disse, porque era "importante para o futuro da civilização ter uma praça pública digital, onde uma ampla gama de teorias pode ser discutida de maneira saudável".

Sob Musk, receitas do Twitter caíram e força de trabalho foi reduzida de 7.500 funcionários para 2.000 - Dado Ruvic/Reuters

Ultimamente, não tenho visto Musk participar de muitos debates sérios –saudáveis ou não–, embora o tenha visto postando um monte de memes de terceira categoria e compartilhando novamente suas próprias piadas ruins. Eu me pergunto, também, se alguém que teria 80 engenheiros para ajustar o algoritmo para que seus tuítes fossem mais visíveis do que os do presidente dos Estados Unidos é realmente a pessoa que conseguirá salvar o Twitter e (segundo ele) o resto de nós.

De certa forma, porém, tudo isso não vem ao caso. Nunca esperei que Musk, quando assumiu o Twitter, de repente resistisse ao desejo de fazer piadas idiotas, nem parasse de fazer afirmações infundadas para seus 130 milhões de seguidores de maneira irresponsável, nem para se abster de usar a plataforma para seu próprio ganho pessoal. Também não esperava que ele fosse capaz –ou estivesse disposto– a permitir liberdade de expressão irrestrita na plataforma.

Além disso, o Twitter é mais como uma noite horrível de microfone aberto do que uma "praça digital", então a ideia de que Musk poderia de alguma forma usá-lo para nos unir sempre me pareceu um tanto absurda. O que eu realmente esperava era que o Twitter simplesmente continuasse sendo tão ruim e tão bom quanto antes de Musk assumir.

Mas nos quatro meses desde a aquisição a plataforma parece ter piorado. Não é tanto, pelo menos para mim, que o conteúdo tenha se tornado mais ofensivo, ou mais agressivo, ou mais falso. Não se trata nem mesmo das falhas técnicas habituais –como a linha do tempo quebrada que muitos usuários encontraram quando visitaram o site na quarta-feira (1). De alguma forma, parece um lugar menos emocionante do que costumava ser; parece simplesmente um pouco... tedioso.

Numa tentativa de entender se essa visão era mais ampla, esta semana fiz uma pesquisa no Twitter para saber como as pessoas achavam que a plataforma havia mudado –ou não– nos quatro meses desde que Musk a comprou. Eu dei quatro respostas possíveis (que reconhecidamente podem ter sido ligeiramente negativas), orientadas pelo que eu já tinha visto e ouvido as pessoas dizerem sobre ele: "Está muito, mas muito pior"; "É marginalmente pior"; "Melhorou! Liberdade de expressão, meu bem!" e, por fim, "Não notei diferença".

Após 24 horas, os resultados chegaram. Das mais de 2.000 pessoas que votaram, apenas 6% disseram que o Twitter melhorou desde a aquisição de Musk, com pouco mais de 17% dizendo que não notaram nenhuma diferença. Isso significa que mais de três quartos dos entrevistados sentiram que havia piorado: 31% optaram por "muito, muito pior", e o maior grupo, 46%, disse que o Twitter piorou ligeiramente.

Esta é a minha experiência também. O Twitter está se tornando um produto menos interessante. Além de todas as falhas, bugs e interrupções, a experiência do usuário diminuiu visivelmente. A guia "Para você" selecionada por algoritmos que Musk lançou em janeiro se parece mais com outras plataformas de rede social –muitas fotos, vídeos e outros conteúdos virais que podem ser meio viciantes, mas também totalmente desprovidos de substância. Já temos Instagram para isso.

O Twitter também parou de permitir que aplicativos de terceiros –que têm sido parte integral da experiência do usuário e do próprio desenvolvimento do Twitter– acessem seus dados livremente, o que significa que a maioria desses aplicativos está extinta.

E, apesar de parecerem surgir muito mais anúncios do que antes, muitos anunciantes fugiram, causando uma queda nas receitas. Parece que os usuários podem estar fazendo o mesmo: de acordo com a empresa de inteligência de dados SimilarWeb, o tráfego total do Twitter caiu 2% em janeiro em relação ao ano anterior. Os dados completos definidos para fevereiro ainda não estão disponíveis, mas nos 28 dias até 25 de fevereiro, o tráfego caiu 5%.

Pode ter parecido invencível em certo ponto, mas o Twitter não podia durar para sempre –o efeito de rede que manteve todos nós na plataforma até agora sempre daria lugar a outra rede em algum momento. Quando a morte do Twitter finalmente chegar, não poderemos colocar toda a culpa em Musk. Poderemos, entretanto, culpá-lo por tornar a rede social tão tediosa.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.