O Discord, a plataforma de comunicação social e de mensagens criada oito anos atrás e popular entre os jovens e os jogadores de videogames, que vem se tornando cada vez mais uma parte importante da internet, deparou-se mais uma vez com controvérsia.

Havia rumores de que os documentos do Pentágono já estavam circulando na plataforma em março, antes de aparecerem em outros sites. Os vazamentos são o mais recente incidente dos últimos anos em que o Discord desempenhou um papel fundamental.

Como o Discord começou?

O Discord foi introduzido em 2015 por Jason Citron, um jogador de videogames e programador de computadores. O estúdio de desenvolvimento de jogos de Citron estava batalhando para ganhar impulso, e por isso criou uma aplicação de chat que as pessoas podiam utilizar para se comunicar entre si enquanto jogavam.

A plataforma foi um produto de nicho até a pandemia, quando os jovens estavam à procura de formas de conversar com os seus amigos e de se unirem a comunidades online. No final de 2021, tinha mais de 150 milhões de utilizadores ativos por mês, ante 56 milhões em 2019. Mais recentemente, foi avaliado em US$ 14,7 bilhões, de acordo com PitchBook, uma fornecedora de dados de mercado.

O que é um servidor Discord?

O Discord é semelhante à ferramenta de trabalho Slack. Não existe uma alimentação social central ou uma linha temporal com posts que os utilizadores possam acompanhar. Em vez disso, está dividido em servidores —essencialmente, salas de chat— concebidos para grupos ou interesses específicos. Esses servidores se subdividem em canais individuais, baseados em tópicos.

Os utilizadores podem aderir a servidores públicos Discord, alguns dos quais têm milhões de membros. Alguns servidores são dedicados à discussão de jogos específicos, tais como League of Legends ou Fortnite, enquanto outros são comunidades para as pessoas discutirem arte, música ou inteligência artificial. São semelhantes aos grupos do Facebook.

Existem também servidores privados Discord, que requerem um convite para adesão. Estas costumam ser comunidades menores, por vezes para um grupo de amigos que trocam mensagens quando estão online, tal como um grupo de chat iMessage. Devido à natureza desses pequenos servidores privados, eles carecem frequentemente da moderação ou supervisão pela plataforma que um servidor público maior teria.

Qual é a política de moderação de conteúdo do Discord?

O Discord tem enfrentado várias controvérsias ao longo dos anos com relação a conteúdo prejudicial divulgado em sua plataforma, entre as quais por organizações nacionalistas brancas que organizaram o comício "Unite the Right", em Charlottesville, Virgínia, em 2017, por meio de servidores Discord, ou o caso do atirador que matou dez pessoas numa mercearia em Buffalo, Nova York, afixando os seus planos e mensagens racistas na plataforma antes do seu ataque no ano passado.

A empresa disse que se tornou mais séria quanto à moderação do conteúdo, e que 15% dos seus mais de 900 empregados trabalham nas suas equipes de confiança e segurança. As diretrizes da comunidade Discord proíbem discursos de ódio, assédio, ameaças, extremismo violento, material de abuso sexual infantil e desinformação. Não ficou claro se os documentos divulgados violavam as diretrizes da empresa.

A aplicação das suas normas tem sido uma questão complicada para o Discord, particularmente devido ao tamanho pequeno e natureza privada de muitos dos seus servidores. A empresa reforçou as suas ferramentas automatizadas para detectar mensagens ade assédio ou ofensivas. Depende também de membros dos servidores do Discord para denunciar violações à empresa. Muitos servidores Discord funcionam como governos em miniatura, com o criador do servidor designando outros membros a quem autoriza a suspender ou excluir a excluir outros membros a fim de fazer cumprir as regras, e dando-lhes o poder de proibir os indisciplinados de enviar mensagens ou expulsá-los completamente do servidor.

Como é que o Discord coopera com as autoridades?

O Discord trabalha com os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, entregando informação sobre utilizadores e preservando registros quando recebe um "processo legal executável", disse a empresa em uma descrição online de suas normas. Também trabalha com as autoridades quando surgem casos de "perigo imediato" ou de "autoflagelação".

No ano passado, a empresa anunciou que estava fazendo "tudo o que podia para ajudar as autoridades legais na investigação" dos comunicados do atirador de Buffalo em sua plataforma. Poucos dias após o ataque, a empresa publicou em seu site que tinha banido a conta do atirador e apagado o servidor no qual ele afixou a sua agenda. A Discord disse domingo que também estava trabalhando com as autoridades sobre os documentos vazados do Pentágono.

Tradução de Paulo Migliacci