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Epstein tentou chantagear Bill Gates ameaçando revelar caso com jogadora de cartas russa, diz jornal

Investidor condenado por crimes sexuais buscava apoio de fundador da Microsoft a fundo filantrópico, segundo WSJ

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São Paulo

O investidor Jeffrey Epstein, antes de ser condenado por crimes sexuais, descobriu um relacionamento extraconjugal de Bill Gates, 67, com uma jogadora russa de bridge, um jogo de cartas, segundo o Wall Street Journal. O financista teria usado esse fato para chantagear o fundador da Microsoft, de acordo com o jornal americano.

Epstein morreu na prisão, em 2019.

Gates teria conhecido a suposta amante em 2010, aos 55 anos, quando ela estava na casa dos 20 anos. Em 2013, Epstein teria presenteado a jovem com um curso de computação. Em 2017, Epstein enviou um email a Gates pedindo reembolso pelas aulas, segundo o WSJ.

Dias antes de enviar esse email, o investidor teria tentado, sem sucesso, convencer Gates a participar de um fundo multibilionário de caridade que Epstein tentou estabelecer com o banco JPMorgan Chase.

De acordo com as pessoas que viram a mensagem, Epstein deu a entender no email que poderia revelar o caso de Gates, caso o fundador da Microsoft rompesse a relação entre eles.

Bill Gates na conferência anual de mídia promovida pelo banco de investimentos Goldman Sachs na cidade de Sun Valley, Idaho. Gates veste blusa e calças de moletom escuras. Ele é um homem branco, de cabelos grisalhos e usa óculos.
Bill Gates na conferência anual de mídia promovida pelo banco de investimentos Goldman Sachs na cidade de Sun Valley, Idaho. Gates deixou o conselho administrativo da Microsoft em 2020, embora continue sendo consultor e maior acionista da empresa - Brendan McDermid/Reuters

"Gates encontrou Epstein apenas para razões filantrópicas. Após falhar repetidas vezes em chamar a atenção de Gates sobre esses assuntos, Epstein tentou sem sucesso envolver um relacionamento do passado para ameaçar Gates", disse uma porta-voz do bilionário da tecnologia.

Epstein foi acusado em 2006 por abuso sexual de mulheres, incluindo menores de idade —as mais jovens com 14 anos. Em 2008, foi condenado por contratar uma menor de idade para prostituição. Por isso, cumpriu pena e entrou na lista de agressores sexuais dos EUA.

Depois, o Miami Herald publicou uma reportagem com denúncias de dezenas de mulheres que afirmam terem sido abusadas por Epstein. Ele foi preso em 2019 por tráfico de mulheres. No mesmo ano, ele morreu na cela à espera de julgamento. O perito médico afirmou que foi suicídio.

A jogadora russa de bridge Mila Antonova se recusou a comentar a relação com Gates e afirmou que não sabia, à época do encontro, quem era Epstein. "Eu não tinha ideia de que ele era um criminoso ou que havia tido segundas intenções."

"Apenas pensei que ele era um homem de negócios bem-sucedido que queria ajudar", disse Antonova. "Estou enojada com o que Epstein fez", acrescentou.

Gates disse que encontrou Epstein poucas vezes para discutir somente filantropia, e que se arrepende disso. À época, ele fazia parte do comando da Microsoft. Em 2020, ele deixou o conselho de administração da empresa, embora continue como consultor tecnológico e maior acionista.

Esse episódio mostra como Epstein agia para conseguir dinheiro e influência, de acordo com o WSJ. Entre 2008 e a condenação de 2019, o financista culpado por tráfico de mulheres encontrou políticos, homens de negócios, acadêmicos e celebridades. Ele distribuía benesses e usava seus laços a favor dos próprios propósitos.

Isso até os relacionamentos se desgastarem, e Epstein usar fatos que conhecia contra o interlocutor.

Na lista de contatos de Epstein, Gates, por ter fortuna de mais de US$ 100 bilhões e pela fundação da Microsoft, estava entre os mais famosos.

A partir de 2011, Gates teve ao menos seis encontros marcados com Epstein, alguns na casa do investidor. O fundador da Microsoft viajou em jato particular de Epstein de Nova Jersey para Flórida em março de 2013, de acordo com registros de voo. No mesmo mês, os dois se encontraram na França com um membro do comitê do Prêmio Nobel da Paz.

O encontro de Gates com a amante russa teve a ver com o jogo de cartas bridge. O fundador da Microsoft afirma ter aprendido a jogar com os pais, e, desde então, o carteado é um de seus hobbies. Os dois se conheceram jogando.

Mila frequentou uma universidade na Rússia entre 2000 e 2005 antes de se mudar para os Estados Unidos e fundar um clube de bridge, segundo com informações disponíveis no LinkedIn.

Em vídeo de 2010, ela disse ter enfrentado Gates em um torneio de bridge. "Eu não ganhei dele, mas tentei acabar com ele", ela afirmou no material.

Mila naquela ocasião buscava financiamento para fundar uma plataforma digital de ensino de bridge, mostram documentos obtidos pelo WSJ. Ela buscava US$ 500 mil e não teve sucesso. Depois, Epstein pagou o curso de computação para a jogadora de baralho.

"Epstein se propôs a pagar o curso diretamente à escola e não pediu nada em troca. Não se por que ele fez isso", diz ela.

Um confidente de Gates, Boris Nikolic, foi quem apresentou Mila a Epstein. Nikolic afirmou ao WSJ se arrepender dos encontros que teve com Epstein.

Epstein manteve reuniões com outras pessoas próximas a Gates, como o executivo da Microsoft Nathan Myrvold e Melanie Walker, da Fundação Gates. Os encontros constam em documentos obtidos pelo WSJ.

Os executivos também lastimam os contatos que tiveram com Epstein.

Epstein usou essa aparente proximidade com Gates para propor ao JPMorgan a criação de um fundo de caridade, cuja cota mínima de contribuição custaria US$ 100 milhões por pessoa. A iniciativa renderia milhões em remuneração ao investidor condenado por crimes sexuais.

A porta-voz de Gates afirma que Epstein nunca trabalhou para o fundador da Microsoft e que o laço citado nas mensagens ao JPMorgan era dissimulação.

"Em essência, esse fundo vai permitir que Bill [Gates] tenha acesso a pessoas, investimentos, locais e governanças da mais alta estirpe, sem ameaçar a garantia de seu casamento e de sua relação com os atuais funcionários da Fundação Gates", escreveu Epstein em agosto de 2011 para dois executivos do JP Morgan, Jes Staley e Mary Erdoes.

O fundo de caridade, porém, nunca saiu do papel. "O banco não precisava de Epstein como um cliente", disse um porta-voz do JPMorgan. A instituição financeira afirma que preferiria nunca ter feito negócios com o investidor, desde que soube das condenações por tráfico de mulheres.

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