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Carmita Abdo

Pornografia deveria ser eliminada das redes? NÃO

Em vez de banir, solução que não é possível, pornografia poderia ser instrumentalizada para promover educação sexual

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Carmita Abdo

Psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

A palavra pornografia deriva do grego "pórne" (prostituta) e "grafia" (escrever sobre). Segundo consta do "Novo Dicionário Aurélio", corresponde às descrições ou representações consideradas obscenas, de cunho sexual, seja em livro, filme ou site, cuja intenção é provocar excitação.

Nos dias atuais, o conceito de pornografia ganhou novos contornos; o acesso a ela se popularizou e o uso flexibilizou-se. Já há estudos demonstrando que seu consumo ativa dois processos, promovendo maior aceitação das variações de comportamentos sexuais (mesmo os menos convencionais), bem como maior senso de autorização (o que é visto é experimentado).

Mulher segura celular com tela em aplicativo sensual
Cena do documentário "PornHub: Sexo Milionário", de Suzanne Hillinger - Divulgação

São quatro os fatores que, mais recentemente, facilitaram o acesso indiscriminado à pornografia: o caráter privativo, a acessibilidade e o baixo custo do uso da internet, além do confinamento decorrente da pandemia. Quem não acessa as mídias sociais? Quem, uma vez isolado, não buscou atender suas necessidades sexuais de forma virtual?

Como a procura por essa alternativa cresceu, cresceram também as ofertas de materiais, tornando o consumo de pornografia um novo hábito sexual, mais explorado e universal do que nunca.

O que um hábito tão escuso pode trazer de bom? Perguntam os mais céticos.

Ora, os usuários mais frequentes de pornografia são homens entre 18 e 24 anos, os mesmos que tendem a se informar sobre sexo pela internet, porque assim não se expõem. Excelente oportunidade para benefício à saúde sexual, já que eles não praticam prevenção e contam com poucos instrumentos para incentivar cuidados preventivos e melhorar a qualidade de vida.

Por outro lado, não se pode negar o prejuízo à autoestima que a visualização repetitiva de corpos esculturais pode causar num pré-adolescente, desvalorizado diante de tanta exuberância sexual alheia. Ou o prejuízo àquele que é compulsivo e se torna refém das redes. Pior ainda são os acessos precoces das crianças. Entretanto, banir a pornografia não é solução, até porque não há como. Ela se vale de toda a forma de comunicação e do apelo que o sexo exerce sobre parcela significativa da população.

Em vez de banir, a ideia é instrumentalizar a pornografia, aproveitando a sua receptividade, para veicular informação sobre saúde e promover a educação sexual. O princípio é o mesmo das vacinas: o vírus que mata pode salvar.

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