Descrição de chapéu China

Multinacionais recorrem a IA generativa para gerenciar cadeia de suprimentos

Tensões geopolíticas e novas leis que exigem que as empresas monitorem abusos ambientais e de direitos humanos no fornecimento impulsionam o interesse

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Oliver Telling
Londres | Financial Times

Algumas das maiores empresas do mundo estão recorrendo à inteligência artificial para navegar em cadeias de suprimentos cada vez mais complexas, com o objetivo de enfrentar o impacto das tensões geopolíticas e a pressão para eliminar os vínculos com abusos ambientais e de direitos humanos.

Unilever, Siemens e Maersk estão entre as companhias que usam a inteligência artificial para negociar contratos, encontrar novos fornecedores ou ajudar a identificar aqueles que estejam ligados a questões como a suposta repressão aos muçulmanos uigures na região chinesa de Xinjiang.

Embora a IA seja usada para ajudar o gerenciamento de cadeias de suprimentos há anos, o desenvolvimento da chamada tecnologia de inteligência artificial generativa vem oferecendo novas oportunidades para automatizar ainda mais o processo.

Imagem mostra troféu na frente de uma tela com logo do ChatGPT
Logo do ChatGPT em ilustração - Dado Ruvic - 4.mai.23/Reuters

Cada vez mais multinacionais passaram a enfrentar a necessidade de se manter informadas sobre seus fornecedores e clientes, em meio às interrupções durante a pandemia e à intensificação das tensões geopolíticas.

Novas leis sobre cadeias de suprimentos em países como a Alemanha, que exigem que as empresas monitorem questões ambientais e de direitos humanos em suas cadeias de suprimentos, impulsionaram o interesse e o investimento na área.

Navneet Kapoor, vice-presidente de tecnologia da Maersk, disse que "as coisas mudaram drasticamente no ano passado com o advento da inteligência artificial generativa", que pode ser usada para criar chatbots e outros softwares que geram respostas a solicitações humanas.

Em dezembro, o segundo maior grupo de transporte de contêineres do planeta participou de uma rodada de capitalização de US$ 20 milhões para a Pactum, uma empresa de São Francisco que diz que seu bot, semelhante ao ChatGPT, vem negociando contratos com fornecedores para a Maersk, Walmart e o grupo de distribuição Wesco.

"Quando há guerra, Covid ou interrupção da cadeia de suprimentos, você precisa entrar em contato com os fornecedores", disse Kaspar Korjus, um dos fundadores da Pactum, que afirmou que o chatbot da startup vinha negociando contratos no valor de até US$ 1 milhão em nome de "dezenas" de empresas do ranking Fortune 500. "Com as perturbações que acontecem uma atrás da outra nos dias de hoje, os humanos são lentos demais. O Walmart não tem tempo para entrar em contato com dezenas de milhares de fornecedores".

Da mesma forma que outras multinacionais, o conglomerado industrial alemão Siemens acelerou os esforços para reduzir sua dependência de fornecedores chineses.

Desde 2019, a Siemens emprega os serviços da Scoutbee, uma startup de Berlim que este ano lançou um chatbot capaz, segundo ela, de responder a solicitações para localizar fornecedores alternativos ou vulnerabilidades na cadeia de suprimentos de um usuário. "O aspecto geopolítico é um tópico importante para a Siemens", disse Michael Klinger, executivo de cadeia de suprimentos na empresa.

O presidente-executivo da Scoutbee, Gregor Stühler, disse que a Unilever, outro cliente e fabricante da pasta comestível Marmite e dos sorvetes Magnum, também conseguiu identificar novos fornecedores quando a China entrou em lockdown durante a pandemia.

Evan Smith, presidente-executivo da startup nova-iorquina Altana, disse que a empresa, cujos clientes incluem o grupo dinamarquês de transporte marítimo Maersk, bem como as autoridades de fronteira dos Estados Unidos, analisou declarações alfandegárias, documentos de transporte e outros dados para construir um mapa que conecta 500 milhões de empresas em todo o mundo.

Os clientes podem usar sua plataforma habilitada para inteligência artificial a fim de rastrear produtos de fornecedores em Xinjiang, acrescentou Smith, ou rastrear se seus próprios produtos estão sendo usados em sistemas de armas russos.

"Só para começar, construir o mapa exigiu que conectássemos bilhões de pontos de dados em diferentes idiomas. A única maneira de trabalhar com esse volume de dados brutos é a inteligência artificial".

Até 96% dos profissionais de cadeia de suprimentos estão planejando usar a tecnologia de inteligência artificial, de acordo com uma pesquisa com 55 executivos conduzida neste mês pelo grupo de logística Freightos, embora apenas 14% já estejam usando.

Quase um terço dos entrevistados acredita que o uso da inteligência artificial levaria a cortes significativos de empregos em suas empresas, o que reforça as preocupações quanto ao impacto da tecnologia sobre a segurança do emprego.

Tradução de Paulo Migliacci

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