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Zoom treina IA com dados pessoais que armazena para sempre; veja os cuidados

OUTRO LADO: Empresa diz só usa informações dos usuários que acessam ferramentas de IA na plataforma, como o assistente Zoom IQ

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São Paulo

A atualização nos termos de uso do Zoom de março garantiu à empresa o direito de treinar modelos de aprendizado de máquina e inteligência artificial com informações de usuários. A autorização se referia a "conteúdo do cliente", o que inclui email, datas e participantes das reuniões e dados de voz e imagem dos participantes de videoconferências.

Em nota, a empresa afirma que o trecho se referia apenas a quem optar por usar recursos de inteligência artificial disponíveis no programa de videoconferência, como o assistente virtual Zoom IQ.

"Os participantes do Zoom decidem se vão usar ferramentas de IA geradora e, separadamente, se vão permitir o compartilhamento de dados com propósito de aperfeiçoamento do serviço."

Após o trecho levantar polêmica no fórum especializado Hacker News e repercutir na imprensa e nesta Folha, o Zoom alterou seus termos de serviço para deixar claro que não usa vídeos, áudios, chats, compartilhamento de tela ou qualquer outra comunicação do cliente para treinar modelos de inteligência artificial.

No contrato, entretanto, ainda não fica clara a opção de o usuário recusar o armazenamento dos dados.

Silhuetas à frente do logo do Zoom, em fotografia ilustrativa
Silhuetas à frente do logo do Zoom, em fotografia ilustrativa - Dado Ruvic/Reuters

No contrato, o Zoom também concede a si uma "licença perpétua, mundial, não exclusiva, isenta de royalties, sublicenciável e transferível e todos os outros direitos exigidos ou necessários para redistribuir, publicar, importar, acessar, usar, armazenar, transmitir, revisar, divulgar, preservar, extrair, modificar, reproduzir, compartilhar, usar, exibir, copiar, distribuir, traduzir, transcrever, criar trabalhos derivados e processar conteúdo do cliente.

Segundo o diretor-fundador do Data Privacy Brasil e professor de Direito da ESPM, Bruno Bioni, a cessão perpétua dos dados viola a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e o Código de Defesa do Consumidor. "Além de não haver [no contrato] uma opção de não entregar os dados, isso deixa o cliente sem um mecanismo para voltar atrás e revogar o próprio consentimento."

Para evitar o compartilhamento desnecessário de dados, o cliente do Zoom deve ficar atento às permissões que concede para acessar recursos da plataforma. Antes de aceitar os termos de privacidade, é recomendável que a pessoa cheque quais dados são solicitados para quais tratamentos.

O Zoom define também que todos os direitos referentes a dados gerados no uso do programa de videoconferência pertencem à empresa. Bioni diz que uma grande parcela dessas informações são geradas a partir de dados pessoais do cliente. "Nesta primeira etapa de tratamento de dados tem de haver a incidência das leis de proteção de dados pessoais."

Além dos dados chamados de telemetria (movimentação de mouse e teclado), o trecho inclui informações de uso do programa e diagnósticos de problemas. A empresa ainda deixa de informar qual o propósito das ferramentas de IA nas quais trabalha.

O Zoom diz que usa essas informações para fornecer e melhorar serviços, desenvolver produtos, modelos de aprendizado de máquina e inteligência artificial, marketing, análise e garantir qualidade.

Em maio, a plataforma de videoconferência lançou o assistente virtual Zoom IQ, capaz de fazer atas de reuniões e elaborar sugestões de pauta e encaminhamento de email. A ferramenta foi desenvolvida em parceria com a criadora do ChatGPT, OpenAi, e com a Anthropic .

PROBLEMAS DE PRIVACIDADE NA PANDEMIA

Uma série de invasões de videoconferências por adolescentes com conhecimento básico de computação expôs dificuldades do Zoom em garantir a privacidade de seus clientes no início da pandemia de Covid-19, nos primeiros meses de 2020. Os episódios ficaram conhecidos como "zoombombing."

Os jovens entraram sem convite em aulas de colégios de São Paulo, reunião de cientistas brasileiros sobre coronavírus e em encontros informais, o que gerou desconfiança nos usuários.

A empresa precisou providenciar uma espécie de recall atrás do outro devido ao seu crescimento exponencial na pandemia. A fama a colocou na mira de trolls e de pesquisadores de segurança.

No início de 2020, a companhia foi acusada de repassar dados ao Facebook e de criptografia frágil. Consertou ambos os problemas, após as denúncias virem a público.

A posição da empresa é elogiada por parte da comunidade de segurança da informação, que destaca a rapidez com que ela resolveu os problemas em meio à grande demanda proporcionada pela pandemia. "Nunca vi precisar escalar uma estrutura tão rapidamente", disse à reportagem da Folha, de 2020, Ricardo Gajardoni, chefe de operações da NetSecurity.

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