Consumo de água de big techs aumenta com boom de IA e preocupa analistas

Professor sugere que pedir entre 10 e 50 respostas do ChatGPT equivale a uma garrafa de 500 ml para resfriar datacenters

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Cristina Criddle Kenza Bryan
Londres | Financial Times

As maiores empresas de tecnologia do mundo aumentaram substancialmente seu uso de água para resfriar os datacenters, gerando preocupações sobre o impacto ambiental do boom da inteligência artificial generativa.

Microsoft, Google e Meta, dono do WhatsApp e Instagram, elevaram o uso da água nos últimos anos, com milhões de usuários conectados aos seus serviços online.

Acadêmicos sugerem que a demanda por IA aumentaria a retirada de água —onde é removida de fontes subterrâneas ou superficiais— para entre 4,2 bilhões e 6,6 bilhões de metros cúbicos até 2027, ou cerca da metade do volume consumido pelo Reino Unido a cada ano.

Funcionário monitora equipamento em datacenter na China
Funcionário monitora equipamento em datacenter na China; big techs aumentam consumo de água, usada para resfriar datacenters de IA - Li Zhipeng - 29.nov.2023 / Xinhua

Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, escreveram em um artigo citado na revista Nature na semana passada que era um "momento crítico para descobrir e mapear os passos dos modelos de IA em meio à crise cada vez mais grave de escassez de água doce, agravada por secas prolongadas e atrasada infraestrutura pública de água".

Essa preocupação cresceu no último ano, à medida que as principais empresas de tecnologia competem para lançar produtos que usam IA generativa, alcançam modelos de linguagem capazes de processar e gerar grandes quantidades de texto, números e outros dados.

Esses modelos precisam de uma grande quantidade de energia de computadores para operar, exigindo o uso de enormes fazendas de servidores que utilizam água gelada para resfriar o equipamento, absorvendo o calor do ar. Parte da água evapora no processo de resfriamento, enquanto parte pode ser reutilizada.

A água é usada na maioria das formas de geração de combustível e energia, por exemplo, para bombear petróleo e gás ou para produzir vapor em usinas termelétricas. Ela também evapora da superfície de reservatórios aproveitados para energia hidrelétrica.

Em 2022, o período mais recente com dados disponíveis, a Microsoft aumentou seu consumo de água em 34%, o Google, em 22% e a Meta, em 3%, como resultado do aumento do uso de datacenters.

Essas empresas têm como objetivo, até 2030, devolver mais água aos sistemas —com o uso de aquíferos por exemplo— do que consomem, financiando trabalhos para melhorar a infraestrutura de irrigação ou restaurando sistemas de áreas úmidas.

Um mês antes de a OpenAI, dona do ChatGPT, concluir o treinamento de seu modelo mais avançado (o GPT-4) uma central de datacenters em West Des Moines, no Iowa (EUA), consumiu 6% da água do distrito, de acordo com um processo movido por seus moradores.

Shaolei Ren, professor associado da UC Riverside, sugeriu que pedir entre 10 e 50 respostas do ChatGPT, executado em seu modelo anterior GPT-3, equivaleria a "beber" uma garrafa de 500 ml de água, dependendo de quando e onde é implantado.

O GPT-4 tem mais parâmetros e exige mais energia, então provavelmente usará mais água, disse Ren. Informações detalhadas sobre o uso de energia do modelo não foram disponibilizadas.

Pesquisadores pediram dados mais abrangentes e uma maior transparência das empresas de IA, como a disponibilização do quanto consome, por exemplo, mecanismos de busca e serviços de IA.

"Reconhecemos que treinar grandes modelos pode exigir muita água, e é uma das razões pelas quais estamos constantemente trabalhando para melhorar a eficiência", disse a Open AI ao ser questionada sobre o tema. "Também acreditamos que grandes modelos de linguagem podem ser úteis para acelerar a colaboração científica e a descoberta de soluções climáticas."

A Microsoft afirmou que "atualmente, a divisão de IA representa apenas uma fração da eletricidade usada pelos datacenters, que coletivamente usam cerca de 1% do fornecimento global de eletricidade. Quanto isso aumenta e como o crescimento da IA afeta essa corrida dependerá de muitos fatores". Já o Google se recusou a comentar.

Kate Crawford, professora de pesquisa na USC Annenberg que se especializa nos impactos sociais da IA, disse: "Sem uma transparência maior e mais relatórios sobre o assunto, é impossível rastrear os verdadeiros impactos ambientais dos modelos de IA. E isso é importante em um momento em que muitas partes do planeta estão enfrentando secas profundas e prolongadas, e a água potável já é um recurso escasso".

Por isso, ela alertou sobre um cuidado que deve ser tomado. "Não queremos usar ferramentas de IA generativa às cegas sem conhecer seus verdadeiros impactos em um momento em que o planeta já enfrenta uma crise climática", avaliou.

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