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Telegram está prestes a dar lucro e já prepara IPO, diz dono do aplicativo

Em rara entrevista, Pavel Durov afirma que aplicativo tem 900 milhões de usuários ativos, metade do WhatsApp

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Hannah Murphy
Dubai (Emirados Árabes Unidos) | Financial Times

O dono do Telegram, Pavel Durov, afirmou que o aplicativo de mensagens já conta com 900 milhões de usuários e está próximo de se tornar um negócio lucrativo, ao mesmo tempo em que se prepara para entrar no mercado de ações e realizar a sua primeira oferta pública.

Em entrevista ao Financial Times, Durov disse que a companhia cresceu para se tornar um dos aplicativos de mídia social mais populares do mundo, enquanto gera "centenas de milhões de dólares" em receitas após a introdução de publicidade e serviços de assinatura premium há dois anos.

"Estamos esperando nos tornar lucrativos no próximo ano, se não ainda neste ano", afirmou ele, que nasceu na Rússia, em sua primeira entrevista pública desde 2017. De acordo com o executivo, o número de usuários ativos mensais subiu de 500 milhões em 2021 para 900 milhões, metade do que tem o WhatsApp, segundo a Sensor Tower, que analisa dados de empresas digitais.

Pavel Durov, dono do Telegram, participa de congresso em 2016
Pavel Durov, dono do Telegram, participa de congresso em 2016 - Albert Gea - 23.fev.2016 / Reuters

Durov, que é o único proprietário do Telegram, comentou que a empresa recebeu "avaliações de mais de US$ 30 bilhões" de potenciais investidores, incluindo "fundos multinacionais de tecnologia de estágio avançado", mas descartou a venda da plataforma enquanto estuda uma futura oferta pública inicial.

"O principal motivo pelo qual começamos a monetizar é porque queríamos permanecer independentes", disse Durov. "De modo geral, vemos sentido (em realizar a IPO) como um meio de democratizar o acesso ao valor do Telegram", analisou.

Conhecido em seu início por ser o lar da comunidade de criptomoedas, a empresa de cerca de 50 funcionários explodiu em popularidade nos últimos anos e se tornou uma vital ferramenta de comunicação para governos e autoridades em todo o mundo, além de ser muito relevante para quem vive em zonas de conflito.

Pesquisadores alertam que a plataforma tem uma moderação leve e permanece sendo um foco de atividades criminosas, desinformação e conteúdo extremista ou terrorista. Críticos sugeriram que o governo russo teria vínculos ou influência sobre o Telegram, o que Durov rejeita e diz ser "impreciso"

"Zuckerberg da Rússia" deixou o país

O dono do Telegram foi aclamado como o "Mark Zuckerberg da Rússia" depois de cofundar o VKontakte (VK), que se tornou a rede social mais popular do país, em sua cidade natal São Petersburgo em 2007.

Defensor da liberdade de expressão, o russo fundou o Telegram em 2013 com seu irmão. Segundo Durov, ele fugiu da Rússia um ano depois, quando se recusou a compartilhar os dados de determinados usuários ucranianos do VK com a agência de segurança da Rússia. Durov disse que vendeu, sob coação, as suas ações no VK para oligarcas aliados do governo russo por US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão no câmbio atual).

Duas pessoas com conhecimento do assunto disseram que o Telegram provavelmente buscará entrar na Bolsa nos EUA assim que a empresa obtiver lucro e as condições de mercado sejam favoráveis. Durov se recusou a comentar sobre um cronograma ou um local possível, mas disse que o Telegram tem "estudado várias opções".

O aplicativo de mensagens levantou cerca de US$ 2 bilhões em financiamento de dívida, de uma oferta de títulos de US$ 1 bilhão em 2021, bem como emissões adicionais de US$ 750 milhões naquele ano e US$ 270 milhões em 2023.

Quem comprou os títulos poderá converter a dívida não garantida em ações com um desconto entre 10% e 20% em relação ao preço da IPO do Telegram, caso a oferta pública ocorra até março de 2026 —um incentivo para a empresa entrar com o pedido antes dessa data.

Para a IPO, Durov adiantou que o Telegram consideraria vender parte das ações para usuários fiéis, seguindo o que foi feito pelo Reddit, que recentemente anunciou que destinaria uma parte de seus papéis para investidores de varejo antes de promover a IPO em Nova York em março.

Durov afirmou que tem recebido sondagens para realizar uma captação de capital menor. "Isso continua sendo uma possibilidade se quisermos levantar fundos, por exemplo, para impulsionar nossas ambições relacionadas à inteligência artificial", disse ele, acrescentando que a empresa está explorando a introdução de um chatbot alimentado por IA.

O concorrente WhatsApp, da Meta, tem 1,8 bilhão de usuários ativos mensais, enquanto o aplicativo de comunicações criptografadas Signal registrou 30 milhões em fevereiro, de acordo com análises da Sensor Tower, embora esses dados cubram apenas o uso de aplicativos móveis.

As despesas anuais ficaram em menos de US$ 0,70 para cada usuário mensal, informou Durov. Como parte de seus esforços para gerar receitas, o Telegram está testando publicidade em certas regiões, cobrando no mínimo entre 1 milhão de euros e 10 milhões de euros (R$ 5,43 milhões a R$ 54,3 milhões) por anunciante ou agência. A empresa planeja expandir a oferta de forma mundial neste ano e atrair anunciantes menores usando sistemas automatizados.

Neste mês, a empresa deve começar a divisão de receitas com os criadores de conteúdo que administram seus canais, prometendo a eles uma parcela de 50% do que for obtido em dólar com o marketing. Além disso, também terá início o uso de contas comerciais e um recurso de "descoberta social", que ajudará os usuários a conhecer ou namorar pessoas próximas a eles, disse Durov.

A busca do Telegram para obter receita com publicidade entra em conflito com sua reputação de ser uma plataforma que evita uma grande moderação do conteúdo, o que gerou questionamentos por permitir que conteúdos ligados ao grupo terrorista Hamas permanecessem na plataforma.

Durov disse que o Telegram planeja melhorar seus processos de moderação este ano, que tem eleições marcadas em vários países, e "implantar mecanismos relacionados à IA para lidar com possíveis problemas".

Mas Durov descarta censurar as pessoas. "A menos que ultrapassem linhas vermelhas, não acho que devemos policiar as pessoas na forma como se expressam", disse. "Acredito no debate de ideias. Acredito que qualquer ideia deve ser desafiada...Caso contrário, podemos rapidamente avançar para o autoritarismo".

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