PF conclui que Google e Telegram agiram de modo abusivo contra PL das Fake News

Empresas, que lançaram ofensiva contra projeto no ano passado, negam irregularidades

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Brasília

A Polícia Federal concluiu que a atuação do Google e do Telegram contra o PL das Fake News configurou "abuso de poder econômico, manipulação de informações" e uma possível violação contra a ordem de consumo.

A informação está em ofício enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quarta-feira (31), em inquérito que investiga a atuação das big techs contra o projeto de lei.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) tinha sido acionada no ano passado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que acusou as big techs de "contundente e abusiva ação" contra a proposta em tramitação no Congresso Nacional. As empresas negam irregularidades.

O modus operandi do Google em sua ofensiva contra o projeto de lei foi revelado pela Folha em maio do ano passado.

Google destaca link contra PL das Fake News
Google destaca link contra PL das Fake News, em maio do ano passado - Reprodução

Naquele mês, com o tema prestes a ser votado na Câmara, o Google publicou em sua página inicial de buscas link cujo título era: "O PL das fake news pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil".

O Telegram, na mesma época, disparou mensagens afirmando que seria aprovada uma lei que irá "acabar com a liberdade de expressão".

Na investigação sobre essa ofensiva, a PF afirmou que as evidências mostraram que as empresas de tecnologia "adotaram estratégias impactantes e questionáveis contrárias à aprovação do projeto".

A polícia se baseou em estudo feito pelo Laboratório de Estudos de Internet e Mídia Sociais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que "expôs o uso de artifícios por essas corporações em uma campanha caracterizada por desinformação e manipulação".

Segundo o documento, essa atuação visava resguardar os interesses econômicos das empresas, que possuem posição relevante no mercado, "deixando anunciantes e consumidores vulneráveis".

Já o Telegram Brasil teria utilizado sua plataforma para disseminar informações falsas e distorcidas sobre o PL em tramitação e "incitou seus milhões de usuários a atacarem vigorosamente o projeto, criando um ambiente propício para pressionar os parlamentares".

As duas empresas também incentivaram seus usuários, segundo o documento, a pressionar os congressistas, disponibilizando um link direto ao portal da Câmara.

"O intento das empresas, aproveitando-se de suas posições privilegiadas, é incutir nos consumidores a falsa ideia de que o projeto de lei é prejudicial ao Brasil, um ato que pode estar em descompasso com os valores da Constituição", afirma o ofício da PF, que ainda questiona violação de "éticas comerciais".

O documento, assinado pelo delegado Fábio Fajngold, também diz que tais ações "parecem configurar crimes contra a ordem consumerista, promovendo publicidade enganosa e abusiva".

O delegado comunicou que encerrou os trabalhos de investigação, enviando os autos do processo ao Judiciário para apreciação e possível realização de outras diligências "que sejam imprescindíveis ao oferecimento da denúncia".

A apresentação de eventual denúncia sobre o caso cabe ao Ministério Público. O PL das Fake News acabou não sendo levado para votação naquela época, e a discussão no Congresso não avançou desde então.

A defesa da Google Brasil afirmou no processo que "nunca conduziu uma campanha difamatória em relação ao mencionado projeto de lei" e enfatizou que não se opõe à criação de legislações destinadas a regulamentar os serviços oferecidos pelos provedores de aplicações de internet.

"A posição da Google Brasil Internet Ltda. reforça seu compromisso em cumprir com as decisões judiciais e destaca a ausência de qualquer intenção difamatória em relação ao projeto de lei mencionado, ressaltando, inclusive, sua não oposição à implementação de leis regulatórias para os serviços prestados", disse.

Já representantes do Telegram disseram que, embora tenha introduzido monetização baseada em anúncios em alguns mercados asiáticos, o aplicativo não obtém lucro no Brasil, não vende anúncios para anunciantes brasileiros e nunca investiu em promoção no país.

Além disso, afirmaram que a mensagem sobre o PL "teve caráter meramente opinativo, nunca político".

O caso tem relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Entre as medidas determinadas pelo ministro quando da instauração do inquérito, a PF interrogou representantes do Google no país.

Os executivos negaram que a plataforma tenha agido para interferir nos resultados de buscas na internet sobre o PL das Fake News.

Eles também foram questionados pelos investigadores a respeito dos gastos de R$ 2 milhões com anúncios sobre a proposta em análise no Congresso. Os executivos, no entanto, negaram que a plataforma tenha agido para interferir nos resultados de buscas na internet sobre a proposta.

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