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Residenciais para a terceira idade vão de vila a hotel de luxo
MARCELO SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Você acorda cedo e o café da manhã está ao lado de sua cama. Desce as escadas e pode escolher entre participar de alguma atividade, jogar cartas ou ler um livro na biblioteca. Depois pode dar uma passada na academia, fazer hidroginástica, sair para um passeio ou participar de aulas de canto. Depois do almoço, que lhe espera pronto em seu quarto, talvez uma sessão de cinema, que fica no andar térreo. Ou simplesmente caminhar pelos jardins e dar comida aos patos, se o bucólico lhe atrai.
Parece a descrição de férias em um hotel caro, mas é a rotina de idosos que pagam até R$ 10 mil por mês para morar em residenciais construídos especialmente para pessoas acima de 60 anos.
Na opinião da psicanalista Angela Mucida, autora do livro "O sujeito não envelhece - Psicanálise e velhice" (editora Autêntica), o modelo atual de residenciais faz sentido no casos de pessoas que têm problemas e deficiências, como Alzheimer e locomoção reduzida, já que a família não é capaz de tomar conta destas pessoas adequadamente.
Ela critica, porém, que pessoas em plenas condições vivam em comunidades só para idosos. "É um sistema que segrega. O ideal para o idoso é conviver com várias gerações e não ficar acomodado. Mas muitas vezes a família pressiona e ele mesmo considera que está dando trabalho e acaba pedindo para ir morar nestes lugares", diz.
A maioria dos moradores destes locais, porém, está disposta a limitar sua convivência em troca dos benefícios oferecidos.
Marcelo Souza Almeida/Folhapress | ||
Moradores do Hotel Ville Garaude participam de gincana. |
LÁ NO HOTEL
Localizado em Alphaville, bairro nobre de Barueri, cidade da Grande São Paulo, o hotel Solar Ville Garaude tem todas os seus 54 quartos ocupados. Há uma lista de espera para os dispostos a pagar uma mensalidade de R$ 5.900. Com atividades diárias e espaços de convivência, o hotel tem uma proposta de integração dos moradores.
Mas há quem prefira viver uma vida mais reservada, como a artista plástica Rosita Nialie, 80, que via TV enquanto outros moradores participavam de uma gincana. "Fiz colégio interno no Mackenzie e essas brincadeiras me lembram de lá. Não quero voltar à infância", diz.
Há um ano e meio no Solar, conta que a principal vantagem do lugar, além da companhia, é a comodidade. "Eu durmo, como e durmo."
Já Maria Heloísa Gonzaga Novais Assunção, 62, há quatro anos e meio no local, faz questão de participar das atividades e diz que não pretende sair do Solar. "Aqui você não se sente mais um", diz.
Críticas, só a quem usa a idade como limitação. "Odeio quando alguém vem reclamar que não tem o que fazer. Não tem, arruma! Mas tem gente que é assim mesmo, vive só para comer e dormir."
No Solar, como em outros residenciais, são as mulheres que dominam. Elas representam mais de 80% dos moradores. De acordo com os funcionários, isso acontece por causa da maior expectativa de vida das mulheres, de sete anos a mais que os homens, em média.
VIDA NA VILA
No Lar Recanto Feliz, no Butantã (zona oeste de São Paulo), os moradores podem escolher entre morar em casas ou apartamentos, em um espaço que lembra um condomínio fechado.
Com 28.000 m², área maior que a praça dos Três Poderes, em Brasília, o residencial oferece serviços que incluem limpeza das residências, acompanhamento médico 24 horas e atividades diárias.
Josefina Boralli, 72, foi ao Recanto Feliz para passar apenas alguns meses, mas mudou de opinião. "Agora eu tenho certeza de que vou passar o resto da minha vida aqui", diz. Assim como no Solar, a praticidade e a comodidade são sempre lembradas. "É muito gostoso, a gente não precisa nem limpar a casa."
O seu semblante só muda quando lembra dos vizinhos que se foram. "É a parte triste né, mas a gente tem que se conformar."
Judith Baroni, 82, mora no Recanto há 14 anos. "Quando eu cheguei, a casa em que moro estava caindo aos pedaços. Eu reformei por sete meses e me apaixonei por aqui", diz.
Recentemente, resolveu aprender a mexer na internet e criou um e-mail. "Era tanta porcaria que vinha! Depois dessa experiência eu desisti. Quero é paz, sossego e sair passeando por aí", disse, continuando sua caminhada.
DE VOLTA AO LAR
Mais próximo do padrão clássico de residencial, o Lar Sant´Ana, localizado no bairro de Pinheiros (zona oeste de São Paulo), tem 115 hóspedes que pagam entre R$ 6 mil e R$ 10 mil ao mês para contar com uma equipe que inclui nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo.
Segundo Maria José Zocal Pereira dos Santos, 50, gestora da unidade, os preços variam pelo tamanho do apartamento, mas os serviços são os mesmos.
Dentre os moradores, John Keith Handy, 78, é um dos poucos homens do local. Para ele, o lado bom do residencial são as atividades e o tempo livre. "Como eu não tenho que me preocupar com nada, leio bastante. Leio muito jornal, sou um grande jornalista", diz, rindo.
Se no caso de Handy a escolha foi feita junto à família, no caso de Yeda Ribeiro de Souza, 81, nutricionista aposentada, foi diferente. "Eu passei mal, desmaiei e, quando acordei, estava aqui", diz.
Embora tenha sido difícil no começo para ela, conta que acabou se acostumando com a rotina. "Quando eu penso em tudo que eu tinha de trabalho em casa, acho que estou mais sossegada aqui, com minhas palavras cruzadas."
MARCELO SOUZA ALMEIDA participou da 52ª turma do programa de treinamento em jornalismo diário da Folha, que foi patrocinado pela Philip Morris Brasil, pela Odebrecht e pela Syngenta.
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