Aniversário de Pacha Mama é o ritual mais sagrado da região
É fácil saber para que lado fica o norte na Quebrada de Humahuaca - basta olhar a inclinação das árvores do vale, oblíquas devido ao vento gelado que sopra do sul o ano todo, exceto em agosto, quando ele vem do norte.
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O vento mais quente também traz micróbios tropicais e doenças -inclusive, diz-se no lugar que quem sobrevive ao mês tem o resto do ano garantido. Por isso mesmo, em agosto se celebra o ritual mais sagrado para os locais: o aniversário da Pacha Mama, ou mãe-terra, divindade original das culturas originárias da região, comemorado no primeiro dia do mês.
O evento é aberto e ocorre em locais públicos, como a praça central dos povoados. Em primeiro lugar, cava-se um pequeno buraco redondo na terra - a boca da Pacha Mama. Coloca-se então uma chapa de metal e brasas. Em seguida, são oferecidas folhas de coca, alimentos e bebidas (nesta ordem). Também acendem-se cigarros, para espetá-los na areia em torno da boca, e se queimam notas de dinheiro (que podem ser falsas).
Alguns locais recitam palavras em quéchua. Ao final, o celebrante pode fazer um pedido para o ano à Pacha Mama -observando-se que é mais prudente rogar por algo à comunidade ou a alguém necessitado, em especial a um familiar. O buraco permanece aberto ao longo do dia e só depois é fechado.
O ritual também evidencia a importância da folha de coca para a região. Nas províncias de Salta e Jujuy, tolera-se o uso e o comércio de folhas de coca e de seus subprodutos (pomadas, balas e chás, vendidos em sachês ou até mesmo em embalagens de plástico). É proibido, porém, plantar a folha.
Um pacote de algumas gramas de folha custa oito pesos em lojas de souvenir. Além de digestiva, a coca previne eventuais males de altura -e não, não dá barato.
Tradicionalmente, o consumidor coloca cinco ou mais folhas na boca, entre os dentes e a bochecha, com bicarbonato de sódio ou cinzas de carvão, que forçam a salivação. Não se morde a planta.
A quantidade de alcaloide presente na folha é infinitamente menor do que na pasta ou no pó de cocaína sintética. É comum, nas províncias do norte, topar com cartazes de apoio ao consumo do produto "in natura".
Mas atenção: apesar de permitida a circulação pelo território argentino, incluindo Buenos Aires, é proibido entrar com as folhas no Brasil.
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