Brasileiro realiza sonho de visitar os 196 países do mundo

Com viagem de 543 dias, baiano supera recorde de canadense e quer o Guinness

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Claudia Dias
UOL

Baiano de nascimento e pernambucano de coração, Anderson Dias, 26, poderia ser só mais um brasileiro fazendo check-ins pelo mapa-múndi, com uma viagem aqui, outra ali. Em vez disso, quis visitar todos os países do mundo —de uma só vez e bem rápido.

Agora, ele espera receber a confirmação do Guinness World Records de ser a pessoa a cumprir a tarefa de forma mais rápida, após ter concluído a façanha em 543 dias.

O passado de Anderson não parece compatível com seu feito. Desde a infância, trabalhava para reforçar a renda dos pais.

Aos 17 anos, ele decidiu deixar Caruaru para estudar na capital pernambucana. Chegou ao Recife com R$ 350 no bolso. Sem grana, começou a vender livros, brinquedos e perfumes para se manter.

Em 2015, quis fazer intercâmbio na Europa. Precisava de R$ 30 mil para a viagem e o curso na Irlanda.
O faro empreendedor o levou a comercializar capinhas e acessórios para celular dentro de ônibus, shoppings e ruas recifenses. Foram três meses de trabalho —em média 16 horas por dia— até atingir o valor e partir para Dublin.

“Quando retornei ao Brasil, voltei a vender capinhas e juntei dinheiro suficiente para abrir uma loja de acessórios para celular”, conta.

O negócio prosperou a ponto de ele conseguir tirar até R$ 25 mil por mês. A estabilidade financeira, porém, não era suficiente.

“Entendi que não era o que queria para minha vida. Era um jovem de 23 anos, ganhando bem, mas infeliz. Me questionei o que mais gostava de fazer e vi que era aprender e viajar”, lembra.

Decidir visitar todos os países do mundo foi questão de tempo. “Pesquisei se alguém já tinha feito isso e descobri que não só fizeram, como conseguiram em tempo recorde e entraram para o Guinness. Pensei: se alguém fez isso, eu também consigo e posso mostrar para o mundo que o Brasil tem pessoas guerreiras, que conseguem o que quiserem, inclusive quebrar um recorde, sem serem ricas”, diz.

Anderson embarcou no aeroporto do Recife rumo ao Paraguai no dia 27 de maio de 2018. Havia vendido a empresa e o carro e, com isso, obtido R$ 150 mil para a jornada —orçada, inicialmente, em R$ 490 mil e planejada durante um mês, junto com o amigo Matheus, o expert em geografia que o ajudou a definir a sequência de países.

Durante a viagem, quando a grana acabou, Anderson passou a monetizar sua conta no Instagram (@196sonhos), comercializando espaço para empresas nos stories e produtos próprios que desenvolveu, como cursos online e ebook.

Anderson, aliás, saiu de casa com 10 mil seguidores e alcançou a marca de 1 milhão pouco antes de regressar ao Brasil, no último 24 de novembro.

O recorde havia sido alcançado um dia antes, quando Anderson Dias desembarcou em Cabo Verde, o 196º país que visitou em um ano e 178 dias, seguindo pelas Américas, Europa, Ásia, Oceania e, por fim, África.
Com isso, superou a canadense Taylor Demonbreun, que em dezembro de 2018 conseguiu a mesma proeza depois de um ano e 189 dias.

Para comprovar que esteve em todos os 193 países-membros da ONU, mais dois países-observadores (Taiwan e Vaticano), além de Kosovo, Anderson precisou recolher assinaturas de, pelo menos, duas pessoas em cada lugar por onde passou.

Também teve de apresentar fotos e vídeos feitos nos locais em que esteve, além de tíquetes e comprovantes diversos.

O Guinness World Records pode levar até 12 semanas para revisar a documentação e informar se a tentativa foi aceita como o novo detentor do recorde ou rejeitada.

Na mala de Anderson, nunca faltou uma camiseta do Brasil —a última delas, inclusive, foi presente do ex-jogador Cafu, com quem ele se encontrou no Qatar.

Durante toda a viagem, o futebol brasileiro abriu portas. Anderson conta, por exemplo, que quando estava embarcando para a Líbia, portando o equivalente a R$ 4.000 em dinares tunisianos, foi interceptado pela polícia. Pelas regras do país, ele estava cometendo uma irregularidade.

“Não sabia que não podia fazer isso, e o policial apreendeu meu dinheiro. Mas, quando ele viu meu passaporte do Brasil, deu um grito no aeroporto: ‘Peléééé’. E me devolveu, dizendo que adorava o país e era fã do craque.”

No Quirguistão, tentando tirar o difícil visto para o Paquistão, só recebia “não”, até que pediu para conversar com o embaixador.

“Eu estava com a camisa do Brasil e o embaixador falou: ‘por que vocês não avisaram que ele era da terra do Ronaldinho? Emitam o visto para ele agora!’”, lembra.

A conquista do brasileiro é recheada com números, histórias e vivências.

Ele calcula ter conhecido pelo menos 3.000 pessoas na jornada, como Juan, um hondurenho que o salvou quando ele se perdeu na floresta; George, o brasileiro naturalizado islandês que lhe deu comida quando o dinheiro acabou na Islândia; e Mona, a crush alemã que conheceu na Croácia e reencontrou nas Maldivas, entre tantos outros.

Em média, Anderson passava três dias em cada país. Em alguns lugares permanecia mais tempo, vivendo experiências que causam inveja em qualquer dono de passaporte lotado.

Em Dubai, por exemplo, aventurou-se nas alturas. “Foi uma das maiores emoções da viagem. Vendo aquele azul do céu e do mar, passou um filme pela minha cabeça: o vendedor de capinhas de celular, o ambulante, está pulando de paraquedas em Dubai, realizando o sonho de viajar o mundo. Pensei: eu venci!”

Nem tudo eram flores, obviamente. Anderson revela que sentiu medo muitas vezes.

“A primeira foi na Guiana, quando me bateram, me deram um mata-leão, fiquei sem ar e desmaiei. Roubaram meu celular e meu dinheiro. Achei que eu iria morrer”, diz.

As experiências marcantes

Gorilas na República Democrática do Congo 
“Ver os gorilas no habitat natural (Virunga National Park) e ficar a três metros deles foi demais. Foi incrível ver e saber como eles têm reações tão parecidas com as da gente. Eles estão ameaçados de sumir do planeta”

Pôr do sol na Zâmbia  
“O pôr do sol na Victoria Falls, uma cachoeira na Zâmbia, foi simplesmente o mais lindo que já vi. Ficamos em uma piscina natural formada pela cachoeira. Foi incrível!”

Neve na Moldávia
“Quando a bichinha (neve) caiu no meu ombro, comecei a chorar de emoção. O matuto vindo do interior, quando viu neve, se acabou no choro”

Vulcão em El Salvador
“Só tinha aquele dia para subir o vulcão Ilamatepec, em El Salvador, e eu tinha esquecido os sapatos. Então eu fui de sandálias mesmo. Foi muito difícil, mas o final foi incrível!”

Bungee jump na Nova Zelândia
“É literalmente sair da sua zona de conforto e encarar seu medo. Eu sempre tive muito medo de altura, então pular de bungee jump não foi fácil. Mas, quando pulei, foi libertador! Parece que você está voando!”

Os maiores perrengues

Fuga na fronteira da República Dominicana com o Haiti  
“Várias pessoas tentaram me atacar para pegar meu dinheiro. Eu tive que correr”

Dormir na rua na Espanha
“Uma mulher ofereceu a casa em Barcelona e depois sumiu. Fui procurar algum hostel, mas todos estavam lotados. Já era 1h e tive que dormir na rua”

Ser assaltado na Guiana 
“Saí do hotel para comer e, de repente, três homens me bateram. Eu desmaiei e acordei sem meus pertences”

Atravessar a fronteira de Omã com o Iêmen  
“Como o Iêmen é um país em guerra, tive que alugar uma AK-47 junto com o visto para entrar. Foi assustador!”

Por erro de digitação, o nome "Guinness World Records " foi grafado incorretamente. O texto já foi corrigido. 

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