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Vai para a Argentina? Tire dúvidas sobre tipos de câmbio e uso de cartão

Mudança na cotação tornou crédito e débito atraentes, mas moeda em espécie ainda é melhor opção

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Buenos Aires

Conversas sobre dinheiro podem se tornar tão longas entre brasileiros na Argentina quanto o maço de notas na carteira. "É fácil se embolar", diz o carioca Well Rodrigues, 30, que viu as cédulas "evaporarem" ao longo do dia em Bariloche e teve que ir buscar mais no hotel.

A inflação, que bate três dígitos, faz o peso se desvalorizar e o país ficar mais barato. "Preços baixaram em média 15% a 20% em um ano", diz Adriana Molha, sócia da agência Brasileiros na Argentina. Se 40 mil brasileiros voaram a Buenos Aires no primeiro trimestre de 2022, o número chegou a 106 mil no mesmo período deste ano, segundo o Indec (IBGE argentino).

A região de Puerto Madero, uma das mais visitadas pelos turistas em Buenos Aires
A região de Puerto Madero, uma das mais visitadas pelos turistas em Buenos Aires - Ronaldo Schemidt/AFP

Com isso, crescem perguntas sobre a melhor maneira de fazer pagamentos no país. Abaixo, tire dúvidas de qual moeda é mais vantajosa, como fazer a conversão, se o uso de cartão é boa opção e se há perigo em andar com cédulas.

Como funcionam as cotações do dólar? Quais devo conhecer?

Existem mais de 15 cotações diferentes, a depender do setor. Para o turista, o mais importante é o câmbio paralelo chamado de blue, que vale praticamente o dobro do dólar oficial, que é controlado pelo governo e só existe na teoria. Nesta quarta (31), a cotação era de 493 pesos e 249 pesos, respectivamente.

Outro câmbio com o qual o viajante pode se deparar é o dólar MEP, usado pelo mercado financeiro —cartões de crédito, débito e internacionais. Normalmente, ele vale um pouco menos do que o blue (466 pesos nesta quarta). Sua viagem só será realmente barata se você usar essas conversões, que são referência no valor pago pelo real.

Levo dólar, real ou peso?

Quanto menos conversões você fizer, menos dinheiro vai perder. Por isso, levar reais pode ser mais favorável. Em cidades grandes ou que recebem muitos brasileiros, como Buenos Aires
e Bariloche, é fácil trocar a moeda. Em algumas localidades menores, no entanto, é bom ter dólares também.

Quanto aos pesos, vale trocar um pouco no Brasil ou no aeroporto só para o transporte ou alimentação na chegada. Mas você pagará a cotação oficial, ou seja, o dobro, então não troque muito.

Como fazer a conversão?

Há diversas maneiras de trocar ou fazer a transferência da quantia (em dólares ou reais) e é importante avaliar qual se adequa melhor às suas necessidades. Em todos os casos, é preciso levar documento pessoal, como passaporte.

Nas casas de câmbio paralelas é onde se pratica a cotação blue, como as "cuevas" da rua Florida, no centro de Buenos Aires. Lá, ficam os "arbolitos", pessoas que sussurram "câmbio" no ouvido dos turistas. Todos sabem que elas existem, mas são ilegais. Se quiser arriscar, o ideal é pedir indicação a conhecidos, ao hotel ou à agência de viagem.

Uma das maneiras mais vantajosas de sacar dinheiro é por empresas como a Western Union, com transações legalizadas. Dá para transferir reais pelo app ou site da companhia (por Pix, por exemplo) e sacar em pesos em uma loja na Argentina. Mesmo com as taxas, a cotação costuma ser melhor do que em casas de câmbio paralelas.

As desvantagens são as filas nas zonas turísticas e a possibilidade de não haver pesos suficientes na hora do saque, o que pode levar a uma peregrinação por outras lojas. Há outras alternativas, como Wise e Remessa Online, com diferentes taxas.

Também é possível ir a agências do Banco de la Nación Argentina e trocar dólares por pesos em espécie pela cotação MEP, desde que o cliente comprove que é turista estrangeiro. É legal, mas rende menos do que o câmbio blue.

É vantajoso fazer a troca de moeda de uma vez só?

Se sua estadia for mais longa, vale trocar dinheiro a cada sete dias. Como a moeda argentina se desvaloriza rapidamente, na semana seguinte seus reais ou dólares estarão rendendo mais (e os preços também subirão).

A nota mais alta em circulação no país é a de 2.000 pesos, ou seja, cerca de R$ 20 ou US$ 4 na cotação blue. Mas ela foi lançada recentemente pelo Banco Central, devido à inflação, portanto a nota mais comum ainda é a de 1.000 pesos (R$ 10).

Não se esqueça de levar uma mochila ou bolsinha para carregar o dinheiro, porque ele não vai caber no bolso. Também não termine a viagem com pesos na carteira, eles provavelmente não valerão nada quando você voltar à Argentina.

Vale a pena usar cartões de débito e crédito?

Até pouco tempo atrás, usar qualquer cartão era desvantajoso, porque eles funcionavam na cotação oficial. Em meados de março, porém, entrou em prática uma cotação próxima ao dólar MEP para cartões estrangeiros, o que tornou a alternativa viável.

Quando você passa o cartão de crédito, débito ou pré-pago no exterior, o banco converte o preço em pesos para dólares, e depois para reais. Agora, a Visa já faz essa conversão na cotação MEP e a Mastercard cobra no câmbio oficial e estorna a diferença na fatura em até 72 horas. Ainda assim, há IOF de 5,38% para cada compra.

Uma outra opção são os cartões de débito de contas digitais internacionais, como Wise, Nomad e dos bancos Inter e C6. Elas também praticam o dólar MEP, mas têm a vantagem do IOF de 1,1%. Todas essas opções continuam um pouco mais caras do que o câmbio blue em dinheiro vivo, mas trazem praticidade.

Como pagar a hospedagem?

Com um cartão de crédito ou débito emitido no Brasil, porque assim o turista estrangeiro tem isenção total do IVA (imposto sobre bens e serviços da Argentina), de 21%, em hotéis, pousadas e similares. Mas para isso é preciso pagar in loco, e não pela internet.

"Ou seja, isso não vale para plataformas como Airbnb", lembra Thaís Donatelli, do perfil @thademochila, que está fazendo um "mochilão" pelo país há mais de um mês. A mesma isenção vale para compras em comércios credenciados no sistema Global Blue, mas nesse caso é preciso pedir reembolso ao final da viagem.

É perigoso andar com notas?

No geral, é uma prática comum no país. Com a piora da crise econômica e da pobreza, não é raro ouvir os argentinos reclamando do aumento da insegurança e de furtos de celulares, mas ainda não se compara ao cenário de grandes cidades do Brasil.

"Para o turista isso ainda não apareceu, não identificamos aumento de reclamações", diz Adriana Molha, sócia da agência Brasileiros na Argentina. Também não são habituais queixas sobre golpes ou notas falsas nas casas de câmbio paralelas, mas é sempre bom seguir indicações de locais de confiança.

Como posso economizar na compra de passagens?

Os meses mais caros são dezembro, janeiro e julho, com preços voláteis que dependem da antecedência da compra. Quem visita outros destinos além da capital encontra, no geral, mais vantagem indo a Buenos Aires e depois comprando voos internos.

O guia e youtuber Well Rodrigues, do canal Well Viajando, recomenda um caminho alternativo mais longo para quem quer economizar. "Consegui um desconto de R$ 600 indo do Rio para Foz do Iguaçu (PR), em relação a um voo direto para Buenos Aires. Aproveitei para conhecer Ciudad del Este (Paraguai), atravessei para Puerto Iguazú (Argentina) de ônibus por R$ 15 e de lá peguei um voo interno para Buenos Aires."

Como economizar no transporte?

O transporte público (ônibus e metrô) funciona bem em Buenos Aires e custa menos de R$ 1. Basta comprar e recarregar o cartão "Sube" nas estações de metrô ou em algum "kiosco", pequenas lojas de conveniência espalhadas a cada esquina, onde é possível ainda comprar um chip pré-pago de celular com internet.

Aplicativos de transporte como Uber e Cabify também são usados e um pouco mais econômicos do que os táxis, mas não são legalizados no país —o melhor é sempre pagar em espécie. Para quem vai a outras cidades, o aluguel de carro é um dos mais baratos do mundo. Recomenda-se fechar pela internet com antecedência.

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