ONU pede revolução energética contra o aquecimento climático
Se a humanidade quiser evitar potenciais efeitos catastróficos do aquecimento global, deve promover o quanto antes uma revolução na maneira como gera energia, priorizando fontes com pouco ou nenhum impacto nas emissões de gases-estufa, diz novo relatório do IPCC (painel do clima da ONU), lançado ontem em Berlim.
O documento agradou a cientistas e ambientalistas, mas houve críticas à "suavização" de certas mensagens presentes na versão anterior do relatório. Por pressão de alguns países, o texto deixou menos explícita a participação dos emergentes na alta das emissões na última década, além de limar a menção anterior de transferência de bilhões de dólares para nações mais pobres.
Suzana Khan, professora da UFRJ que participou do relatório, diz que as negociações foram "muito exaustivas", com os governos pressionando para fazer valer seus interesses.
Segundo ela, como o documento é aprovado pelos países, que identificam o que é politicamente relevante de acordo com a suas próprias óticas, as divergências são até esperadas. A pesquisadora ressalta, no entanto, que no sumário técnico do documento, que realmente condensa todas as informações, não há risco desse tipo de interferência.
MAPA
O documento atual, a última parte da trilogia compõe o Quinto Relatório de Avaliação (AR5) do IPCC, tem a função de subsidiar com informações os formuladores das políticas climáticas, além de ser importante nas negociações do próximo acordo do clima, em 2015.
"Suavizado ou não, toda a ciência por trás do documento, que analisou milhares de artigos, está lá. Há clareza quanto à urgência de se tomar providências",diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
MENSAGEM
As emissões de carbono nunca foram tão elevadas. Se a tendência se mantiver, a Terra pode terminar o século até 4,8°C mais quente.
Os combustíveis fósseis são os grandes vilões. Desde a década de 1970, as emissões de carbono por combustão e processos industriais contribuíram para cerca de 78% do aumento das emissões.
Embora não determine uma fórmula para a mitigação, o relatório indica possíveis caminhos, incluindo energia solar, eólica e, com ressalvas, a nuclear.
Mecanismos de captura de carbono da atmosfera também são considerados, embora haja destaque para a necessidade de estudos na área.
Apesar do alerta, o relatório tem uma boa notícia: já há tecnologia para permitir essa revolução energética, e ela deve ter pouco impacto na economia –cerca de 0,06% sobre o crescimento anual projetado para o mundo.
"Não é um almoço grátis, mas é uma refeição que vale a pena pagar", comparou Ottmar Edenhofer, copresidente do grupo de trabalho 3.
Em entrevista coletiva, Edenhofer e seus colegas ressaltaram que, quanto mais rápida for a transição para uma realidade de baixas emissões de carbono, melhores serão os resultados e menores as emissões.
Mas, para limitar o aquecimento global em 2ºC –considerado o limite para evitar os maiores perigos–, será preciso emissões quase zeradas em 2100.
Embora o Brasil tenha diminuído significativamente suas emissões evitando o desmatamento da Amazônia, outros setores cresceram, sobretudo a geração de energia.
"O Brasil está de certa forma na contramão do documento. O país tem investido no uso de energias 'sujas', construindo termoelétricas e focando na extração de petróleo do pré-sal", disse Rittl.
"O país já sente na pele os efeitos adversos do clima, que deve fica ainda mais hostil. Isso precisa ser discutido nestas eleições", completou.
Steffi Loos/Reuters |
Da esquerda para a direita, os co-presidentes do grupo de trabalho 3 do IPCC Youba Sokona, Ramon Pichs-Madruga e Ottmar Edenhofer, junto com o presidente do painel, Rajendra Pachauri |
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