'Nunca chorei tanto como agora', diz sobrevivente de incêndio no Rio
Márcia Martins diz que tragédia em Santa Maria a fez reviver dores com perda de pai e avô no incêndio do Gran Circus de Niterói em 1961.
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O espetáculo ainda não tinha terminado quando a menina Márcia Martins, então com oito anos, deu a mão ao avô para deixar o circo. A mania do homem --de sair mais cedo de lugares com grande aglomeração de pessoas-- salvou a menina do maior incêndio da história do Brasil.
Passados 52 anos da tragédia no Gran Circus Norte Americano, em Niterói, Rio de Janeiro, Márcia faz um alerta emocionado: não são apenas os feridos que precisam de cuidados, mas todos os que se sentiram afetados pelo horror da tragédia.
"Qualquer um que não morreu naquele lugar, que sobreviveu a uma tragédia, vai ter uma marca, que não é aparente, mas que precisa ser tratada também", sublinha a professora niteroiense.
Na tragédia em 1961, Márcia perdeu o avô e o pai --este, pela mesma razão que motivou muitas mortes Santa Maria, a intoxicação por fumaça. O incêndio no Gran Circus deixou um saldo de 503 pessoas mortas, 70% das quais crianças. O irmão de Márcia, porém, sobreviveu.
A professora diz que por muito anos ela e o irmão tiveram que conviver com "o nó na cabeça" provocado pelo incêndio. Ela buscou ajuda de psicólogos.
Arquivo pessoal | ||
Márcia Martins sobreviveu a incêndio que matou 500 pessoas em Niterói, e relembra tragédia após caso em SC |
'CULPA E INCERTEZA'
Aos 59 anos, Márcia tem três filhos e já é avó. Ela lembra que, quanto teve o primeiro filho, chorou muito, uma reação de quem enfrentou anos de dor e se via diante de uma enorme --e enfim permitida-- alegria.
"Quando você sobrevive a uma tragédia como essas há muita culpa e incerteza", diz ela. "Pode ser que uma pessoa tenha recursos internos para enfrentar sem a ajuda de um profissional (psicólogo). Eu acho difícil".
Aposentada como professora de inglês da Escola Naval, atualmente Márcia é coordenadora do curso online de formação de oficiais da Marinha.
Ela diz que a tragédia no Rio Grande do Sul a fez sentir novamente as dores da perda vivida há mais de cinco décadas.
"Nunca chorei tanto em minha vida como naquele domingo (27 de janeiro de 2013). Porque quando a tragédia do circo ocorreu, eu não chorei tanto assim", conta ela.
Falar à BBC sobre seu caso e sobre as emoções que o incêndio na boate Kiss trouxeram provocou alívio, diz.
"Eu precisava falar sobre isso com a cabeça que tenho hoje", disse, sem esconder a emoção.
As imagens usadas no vídeo associado a esta matéria são do arquivo pessoal de Márcia Martins e do Jornal do Brasil.
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