Fio de nylon pode servir de base para fabricação de músculos artificiais
Os mesmos fios de nylon que são usados por pescadores de fim de semana para capturar lambaris podem se transformar na base da fabricação de músculos artificiais poderosos ou de roupas "inteligentes", capazes de se adaptar a mudanças de temperatura.
Essas possibilidades insuspeitas das linhas de pesca estão demonstradas em pesquisa na edição desta semana da revista especializada americana "Science", da qual participam cientistas brasileiros que trabalham na Universidade do Texas em Dallas (EUA).
A equipe "texana", liderada por Roy Baughman, é uma das mais importantes do mundo nessa área de pesquisa. Os gaúchos Mônica Jung de Andrade e Márcio Lima fazem pós-doutorado na instituição americana e assinam o novo estudo.
Entre as características importantes para que um material seja considerado um bom candidato a componente dos músculos artificiais estão a capacidade de armazenar quantidades apreciáveis de energia quando contraído, do mesmo modo que os músculos dos seres vivos.
VAI E VOLTA
Também é crucial a chamada reversibilidade. De nada adianta um material capaz de produzir uma contração poderosa se não for possível realizar esse processo milhares de vezes, sem perda de desempenho.
Nesses e noutros quesitos, os cientistas já vinham obtendo bons resultados com materiais bem mais sofisticados do que linhas de pesca, feitos a partir de nanotubos de carbono (basicamente folhas microscópicas de átomos de carbono, enroladas para formar um tubo), associados a parafina. A combinação era enovelada muitas vezes em cordas e, quando aquecida, contraía e conseguia levantar pesos, por exemplo, como um músculo de verdade.
A chave do processo, explicou Márcio Lima à Folha, é o que os pesquisadores chamam de coeficiente de expansão térmica negativo de certas fibras - basicamente, o fato de elas se contraírem quando aquecidas e relaxarem quando esfriam, o que permite justamente a reversibilidade do movimento, bastando aplicar ao material essas mudanças de temperatura.
"Descobrimos que usar a torção para transformar as fibras em molas ou serpentinas amplificava esse efeito. Depois, demo-nos conta de que outras fibras muito mais baratas, também se contraem quando aquecidas, e o nylon é uma delas", diz ele. "Aí foi só questão de aplicar o mesmo tratamento a elas: torcer até que se transformassem em molas."
A vantagem, claro, é o preço –esse tipo de fibra custa apenas cerca de R$ 15 o quilo. Em testes, o desempenho dos músculos artificiais levantando pesos, sob variações de temperatura da ordem de uns 100 graus Celsius, chegou a ser 84 vezes mais forte do que os músculos humanos.
As possíveis aplicações da tecnologia: robótica, engenharia biomédica (criando próteses superfortes para membros, por exemplo) e mesmo na indústria têxtil. Seria possível ajustar o comportamento do material para que os "poros" de uma roupa feita com ele se abrissem no calor e se fechassem no frio, por exemplo.
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