Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
de São Paulo.
Escreve às quartas-feiras.
Eduardo
Eduardo Campos nos deixou quando atingia o auge da sua potencialidade.
Sofreu na adolescência a dolorosa experiência imposta pelas peculiaridades da política brasileira, enquanto absorvia as lições de um avô arguto e revolucionário.
Relativizou a generosa utopia da juventude no duro confronto de suas ideias com o estudo da economia: os homens não obedecem aos desejos do soberano, mesmo o mais virtuoso. Para o bem ou para o mal, respondem aos estímulos que lhe são oferecidos por instituições capazes de mobilizar a sua liberdade de iniciativa.
Introjetou a ideia que vale a pena perseguir a "utopia", desde que se reconheça que é preciso alguma inteligência mas muita paciência, para superar as restrições impostas pela inevitável escassez em que vivemos. Isso impõe, sempre, o respeito à liberdade do "outro" e a busca do uso mais eficiente dos instrumentos de que se dispõe.
Incorporou a detestável verdade que o fácil "politicamente correto" é, algumas vezes, limitado pelo fato incontornável de ser "fisicamente impossível".
Armazenou essa espécie de "sabedoria" política dentro de uma figura humana jovial, irrequieta, cordial, mas corajosa e determinada, que se dispunha a testar, na prática, o conhecimento acumulado.
Amadureceu como notável deputado estadual, destacado deputado federal, eficiente ministro da Ciência e Tecnologia e governador reeleito por maioria esmagadora dos cidadãos pernambucanos beneficiados pela revolução que ele introduziu na qualidade da administração pública estadual. Estava pronto para o voo mais alto.
Fomos companheiros no Congresso Nacional. Fui testemunha da sua enorme capacidade agregadora e da sua habilidade para harmonizar posições conflituosas sem apelo ao tão comum "vale tudo" das disputas políticas.
Testemunhei seu excelente trabalho no setor de educação numa visita que fiz ao Estado de Pernambuco em 2008. Estivemos juntos no começo de 2014 quando, ainda aspirante à indicação para disputar a Presidência da República, ele expôs com clareza, desembaraço e convicção, suas sazonadas ideias, numa conferência promovida pela revista "Carta Capital".
Os resquícios das ideias de sua juventude estavam agora implícitos num pragmatismo maduro, seguro e determinado. Eduardo –que não era minha opção–, no governo ou na oposição, aumentaria a probabilidade de continuarmos na construção da sociedade civilizada que estamos buscando desde a Constituição de 1988.
Agora só podemos imaginar o que poderia ser o Brasil com ele e sentir saudades de uma alternativa que não conheceremos...
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