Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
de São Paulo.
Escreve às quartas-feiras.
Desemprego
No último quarto do século 18, os que se preocupavam com os fenômenos econômicos –os "economistas"–, acreditaram ver neles uma espécie de ordem natural que, deixada a si mesma, produziria um harmonioso equilíbrio cooperativo entre os homens. As ciências da natureza estavam revelando "leis" que permitiam o seu controle em benefício da atividade humana. Por que haveria de ser diferente com a atividade econômica?
Marx (1818-1883) não foi o primeiro, mas certamente foi o mais eficaz crítico dessa concepção. Submeteu-a a cerrada análise lógico-histórica da qual ela só sobrevive porque o "mainstream" dos economistas, em seu próprio prejuízo, resolveu ignorá-la. A partir dela, alguns historiadores-sociólogos-economistas e, mais recentemente, o movimento da história econômica global, testaram focos mais amplos para entender as especificidades do "capitalismo" e como ele tem superado as "contradições" apontadas. Como disse Braudel, "o capitalismo não é nem bom, nem mau, nem moral, nem imoral. É o que é. O problema não é julgá-lo, mas compreendê-lo".
A sua compreensão envolve a ideia que ele é um instante na história do homem na busca –esta sim, uma seleção quase natural– de uma organização social que não nega as "contradições". Tenta acomodá-la "civilizadamente" (isto é, através do exercício da política), uma vez que elas exprimem incompatibilidades naturais entre si: 1) plena liberdade de ação; 2) igualdade de oportunidade para todos e 3) eficiência produtiva na produção de subsistência de cada um para deixar-lhe mais tempo para construir a sua "humanidade". É precisamente esta "humanidade" que talvez permita ao homem superar as limitações impostas por sua natureza, e pela infinita energia de sua inteligência, superar a tendência à entropia do universo.
Há menos diferença entre os pensamentos de Marx e Keynes do que entre eles e o dos que consideram a Economia como uma "ciência" que se basta sem a História (alguns dos neoclássicos) quando se trata do fundamental problema do desemprego involuntário.
Reduzidas ao mínimo possível, mas sem deformar a sua essência, podemos afirmar que: 1) para os neoclássicos o problema não existe. O mercado de trabalho (que não se distingue do mercado de parafusos) está sempre em equilíbrio. Não há desemprego involuntário: só não tem emprego quem se recusa a aceitar o "salário de equilíbrio"; 2) para Marx a mecânica interna do capitalismo levará, fatalmente, ao aumento do desemprego e ao seu fim e 3) para Keynes não há determinismo: o exercício inteligente da Política pode mantê-lo dentro de limites socialmente toleráveis.
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