É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
cada duas semanas.
Só obras financiadas e estimuladas pelo setor público tiram país da crise
Sérgio Lima - 22.jan.2015/Folhapress | ||
Obras de duplicação na BR-050 |
A crise política é tão intensa que muita gente já desistiu de olhar para possíveis saídas que o país tem para escapar da recessão.
Eu, não. Entendo que, mesmo numa conjuntura em que as bases do sistema político estão em assustador processo de destruição, a condução econômica pode conseguir pelo menos atenuar a crise que joga 14 milhões de brasileiros no desemprego.
Essa forte recessão, que fecha empresas e extingue empregos, derruba a inflação —o país está à beira da deflação, uma doença tão perigosa quanto a inflação.
Existe um certo consenso a respeito de erros que levaram o país a esse quadro recessivo. As desonerações, reivindicação de toda a sociedade, talvez tenham passado do limite, o que ajudou a deteriorar as contas públicas.
O congelamento de tarifas também ultrapassou o nível do razoável, embora no caso da energia elétrica também houvesse um clamor geral pela redução dos custos que prejudicavam a competitividade da empresa brasileira.
Assumidos esses erros, entre outros, veio uma tentativa catastrófica de corrigi-los no início de 2015. A economia já estava em desaceleração.
Mesmo assim, foi aplicado um choque tarifário que elevou a inflação e levou o Banco Central a aumentar os juros, enquanto a equipe econômica tentava impor um feroz ajuste fiscal.
Em 2015 não se falava em outra coisa: ajuste fiscal, ajuste fiscal. Era um discurso único e depressivo, cujo resultado foi obviamente aprofundar a recessão.
O crescimento anêmico do PIB, de 0,5% em 2014, virou retração de 3,8% em 2015. Isso derrubou ainda mais as receitas do governo e aumentou o buraco nas contas, em vez de reduzi-lo.
O deficit primário, que era de 0,6% do PIB em 2014, subiu para 2,5% em 2015. Em resumo, erros foram cometidos e, na hora de corrigi-los, houve novos erros, porque a correção deveria ter sido feita de maneira mais suave.
Hoje, a despeito da angustiante crise política, há espaço para começar a levantar a economia e, à luz do passado recente, evitar a estratégia desastrosa de corrigir erros com outros erros.
Há uma tênue recuperação da economia a ser estimulada. O discurso da austeridade e das reformas precisa ser abandonado.
Não as iniciativas em si, que são necessárias, mas o discurso, que é monótono e depressivo. Em seu lugar tem de surgir o discurso do crescimento, do investimento, do desenvolvimento.
Não há outro caminho para sair da recessão que não passe por obras financiadas e estimuladas pelo setor público.
Estradas precisam e podem ser recapeadas; rodovias, asfaltadas; ferrovias, concluídas; obras de saneamento, iniciadas; concessões públicas, continuadas; escolas, construídas; habitações, financiadas.
Quem souber outro caminho que indique. O que está sendo trilhado, apoiado em reformas e austeridade, na esperança de que isso crie um ambiente de confiança, favorável a investimentos, é solução de longo prazo, de quem não se sensibiliza com o flagelo do desemprego.
Obras nessas áreas podem ter efeito imediato. Além de atender a carências básicas, criam emprego, impulsionam o consumo, destravam investimentos.
E de onde viria o dinheiro para essas obras? Parte do setor público e parte do privado. Não faz sentido, por exemplo, o BNDES estar guardando quase R$ 200 bilhões em caixa enquanto o país derrete na recessão.
Assim como não faz sentido, após três anos de afundamento econômico, continuarmos com juros acima de 10% ao ano, essa aberração brasileira que virou chacota internacional, que inibe o crédito, os investimentos e cria custos inacreditáveis para o próprio governo.
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