Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.
A humilhação de Cameron
LONDRES - Uma derrota dramática, humilhante, histórica. A imprensa britânica não poupou adjetivos para o fracasso do primeiro-ministro David Cameron na tentativa de conseguir aval do Parlamento para uma intervenção militar na Síria.
A votação de ontem à noite não vai derrubar o governo, mas carimba seu líder como um político fraco, incapaz de comandar a própria base e de cumprir o combinado com a Casa Branca.
Cameron poderia ter optado sozinho por um bombardeio a Damasco. Preferiu submeter a decisão ao Parlamento, subestimando a força da oposição trabalhista e o risco de uma rebelião dos aliados.
Não fez isso por ser mais democrático que os antecessores, como tentou sustentar hoje, mas porque queria dividir o ônus de iniciar uma nova guerra contra a vontade da opinião pública, ainda traumatizada pelo atoleiro do Iraque.
Além de enfraquecer o premiê, o recuo na Síria pode produzir danos mais duradouros na aliança automática entre Londres e Washington - a chamada relação especial, que chegou ao auge com Margaret Thatcher e Ronald Reagan nos anos 80.
O Império Britânico é um retrato na parede, mas a ligação umbilical com os americanos ainda ajudava a manter a fantasia do Reino Unido como uma potência global no século 21. Isso pode ter começado a ruir ontem, apenas quatro meses após a morte da Dama de Ferro.
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