Começou a carreira nos jornais "Diário da Noite" e "Diário de S.Paulo". Chegou à Folha em 1984, onde foi repórter, redator, editor, secretário de Redação, diretor-adjunto de Redação, correspondente em Washington e ombudsman.
O Irã é o paraíso do jornalismo cidadão
A repressão do regime iraniano às atividades de jornalistas nacionais e estrangeiros após a contestação dos resultados da eleição presidencial fez com que mais uma vez se mostrasse a importância das novas tecnologias de comunicação, com suas qualidades e vícios, na sociedade contemporânea.
Com as empresas jornalísticas fora de combate, pessoas comuns passaram a ser a única fonte de informação sobre o que ocorre no país, via celulares e redes de relacionamento em computadores.
O Irã transformou-se no paraíso do "jornalismo cidadão", com vantagens e riscos. Sem ele, possivelmente não se saberia nada do que ocorre ali. Mas é muito difícil distinguir quais as informações provenientes de indivíduos isolados e desconhecidos que têm credibilidade.
O fenômeno não é novo. O segundo livro indicado abaixo mostra o trabalho de um iraquiano que ficou famoso pelo seu blog antes e durante a invasão americana de 2003. Durante muito tempo houve dúvida até se aquela pessoa existia mesmo.
O grande ícone da "revolução da revolução" do Irã, Neda, cujo suposto assassinato foi registrado em celular, não tem sua autenticidade garantida.
Como explica a Secretaria de Redação: "A única maneira de comprovar a autenticidade do vídeo seria checando com seu autor e familiares da vítima, o que é impossível, dadas as restrições impostas pelas autoridades iranianas à atividade da imprensa estrangeira -o enviado especial da Folha a Teerã teve seu visto revogado e se viu forçado a deixar o país". Mesmo que se considere que tudo que chega pelas novas mídias seja verdadeiro, ainda há que levar em conta que as pessoas capazes de enviar essas mensagens não necessariamente representam o conjunto da sociedade.
Quem fala inglês e tem acesso a computadores e celulares é uma faixa da população majoritariamente jovem, bem educada, afluente e pró-Ocidente. É gente como a cineasta iraniana Samira Makhmalbaf, diretora do excelente filme recomendado abaixo, que mostra (no Afeganistão atual) tanto como pensam esses rapazes e moças simpáticos à abertura quanto os mais velhos e menos instruídos, que aderem sinceramente à ortodoxia islâmica.
É impossível assegurar que o estado de espírito predominante no Irã seja o que consta das mensagens que chegam de lá pelas novas tecnologias.
Ótima reportagem publicada aqui na quinta-feira relata que dois institutos de pesquisa de opinião americanos, depois de trabalharem em todo o país, com amostragens de todas as classes, previram que Ahmadinejad venceria o pleito com vantagem superior à que os resultados oficiais lhe deram. Tanto os veículos tradicionais quanto os novos podem ter incidido em falha clássica de cobertura de assuntos em países estrangeiros, que é o jornalista se fiar muito nas informações e interpretações de pessoas parecidas consigo mesmo e, por isso, chegar a conclusões viciadas.
PARA LER
"A Revolução Iraniana", de Emília Viotti da Costa (org.), Unesp, 2007 (a partir de R$ 15,80)
"O Blog de Bagdá", de Salam Pax (tradução de Daniel Galera), Companhia das Letras, 2003 (a partir de R$ 40,04)
PARA VER
"Às Cinco da Tarde", de Samira Makhmalbaf, 2003 (no Telecine Cult, no dia 25/7, às 20h05, e no dia 28/7, às 5h10)
Livraria da Folha
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