Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
As contas externas brasileiras
As contas externas compreendem todo tipo de fluxo econômico entre o Brasil e outros países. E o deficit no 1º trimestre, de US$ 25,18 bilhões na conta corrente (que compõem parte das contas externas), chamou a atenção do mercado nos últimos dias.
A manutenção de contas externas saudáveis é fundamental para um país, pois contribui para um aumento das reservas internacionais. Isso, por sua vez, torna o país mais resistente às crises financeiras e aumenta a sua capacidade de financiar a dívida externa.
Em termos contábeis, as contas externas são representadas no balanço de pagamentos. Podemos dividir o balanço de pagamentos em duas partes principais: conta corrente e conta capital financeira.
A conta corrente, por sua vez, agrega a balança comercial, balança de serviços e a remessas de lucros.
O deficit de US$ 6 bilhões, no 1º trimestre, da balança comercial (diferença entre exportações e importações) foi um dos grandes vilões da balança de pagamentos. A falta de competitividade brasileira e a diminuição dos preços de commodities estão entre os principais motivos do mau resultado da balança.
Outra questão que tira o sono do governo é a conta de serviços, que engloba os gastos dos brasileiros no exterior. O deficit alcançou US$ 10,43 bilhões no último semestre.
A outra parte do balanço de pagamentos (as contas capital e financeira) fechou o trimestre com superávit de aproximadamente US$ 29 bilhões.
A conta capital registra transferências de ativos não financeiros. A conta financeira, como o nome já diz, registra movimentações em renda fixa, ações, derivativos e o (IED) Investimento Estrangeiro Direto.
Apesar do resultado positivo na conta financeira, não podemos considerar que o deficit da conta corrente está sendo coberto por esse resultado.
Devido à natureza especulativa, investimentos em ações, renda fixa e derivativos sofrem bruscas variações dependendo do humor dos investidores. Ou seja, investimentos desse tipo não são adequados para financiar as contas externas.
Logo, o único fator que alivia o deficit na conta corrente (de US$ 25,18 bilhões) é o IED, que registra operações duradouras na economia brasileira. O saldo acumulado de IED entre janeiro e março equivale a US$ 14,96 bilhões.
No quadro abaixo podemos ter uma visão geral do balanço de pagamentos do 1º trimestre.
Banco Central | ||
Dado o cenário atual, a expectativa é de que o Brasil feche 2014 com um déficit na conta corrente de US$ 80 bilhões.
Uma parte desse valor será financiada pelo IED. A previsão do Banco Central é de um superavit de US$ 63 bilhões para o ano. O restante será salvaguardado pelas reservas internacionais, que somam US$ 375 bilhões.
Podemos concluir que o Brasil está preparado para fazer frente aos problemas externos graças às suas grandes reservas. No entanto, os maiores deficits da história na balança comercial são um lembrete de que a situação se deteriorou e que não podemos mais contar com o boom de commodities da década passada.
Texto em parceria com Luca Mosena que é graduando em Administração pela EAESP/FGV
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