Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
Os EUA correm riscos de uma nova bolha no setor financeiro?
O ápice da crise financeira em 2008 levou os Estados Unidos a adotarem uma política monetária anticíclica e expansionista desde aquela época. Isso significa uma redução das taxas de juros para aquecer a economia e evitar uma nova depressão econômica como a de 1929. Mas será que a reversão dessa política poderá provocar uma nova bolha na economia?
Passados quase seis anos e com uma recuperação (mesmo que modesta) da economia, o medo do aumento da inflação já leva o país a se preparar para a retirada, mesmo que gradual, desses estímulos econômicos.
Isso quer dizer que, em breve, o governo americano pode promover aumentos nas taxas de juros, que se encontram atualmente, em média, em 0,25% ao ano em termos nominais (em termos reais chegam a ser negativas).
A dúvida sobre uma nova bolha (mesmo seja remota) faz sentido quando lembramos que, em 2001, após o ataque terrorista de 11 de setembro, o governo também adotou uma política monetária de queda das taxas de juros com medo de uma grave recessão.
Essa política se estendeu também ao mercado imobiliário e, no caso do subprime (de elevado risco), houve um aumento muito grande na demanda por imóveis a ponto de elevar consideravelmente (e artificialmente) os seus preços.
A prática estimulou muitas pessoas a especularem nesse mercado acreditando num aumento "infinito" dos preços dos imóveis e, mais uma vez, a irracionalidade prevaleceu como aconteceu em outros momentos de euforia, como foi com a "Bolha das Tulipas" na Holanda em 1630; com a "Bolha das Ferrovias" na Inglaterra em 1845, com a "Bolha no mercado de ações", que causou a Grande Depressão de 1929, e com a "Bolha das empresas da internet" em 2001. Nesses momentos, mesmo com exemplos históricos, a racionalidade humana é sobrepujada.
Passado o pânico de novos ataques terroristas e com a economia americana recuperada, as taxas de juros voltaram a subir para dar uma freada nos preços e, assim, controlar a inflação. A alta desaqueceu um pouco a economia, bem como provocou uma diminuição na demanda no mercado imobiliário. Como, em geral, os juros do subprime eram pós-fixados, as prestações desses financiamentos subiram e, com isso, a inadimplência também aumentou.
Como as dívidas do subprime foram transformadas em títulos e negociadas secundariamente em bancos além-fronteiras dos EUA, os efeitos dessa inadimplência provocaram a crise que se espalhou rapidamente pelo mundo (globalizado) a ponto de quebrar grandes instituições financeiras e o desenrolar dessa história é bastante conhecido.
A questão que pode preocupar um pouco atualmente é se a história pode se repetir. Ou seja, será que uma alta nas taxas de juros nos EUA já no final deste ano ou no início de 2015 pode causar uma inadimplência generalizada por parte dos agentes econômicos que contraíram os empréstimos?
Assim, é muito importante que o banco central americano aja com cautela, prudência e com muita transparência, de modo que as expectativas do mercado não causem pânico e a reversão da política monetária possa se dar de um modo mais tranquilo a ponto de não provocar uma nova crise financeira mundial em tão pouco espaço de tempo.
Artigo em parceria com o professor e palestrante Fernando Antônio Agra Santos (Universidade Salgado de Oliveira), doutor em economia aplicada (UFV) e economista da UFJF (www.fernandoagra.webnode.com)
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