Ph.D em Business, doutorado em administração, mestrado e bacharelado em economia. É professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
Quanto custa não tomar uma decisão
Na hora de comprar um notebook hoje ou qualquer outro produto eletrônico, somos forçados a lidar com uma série de decisões complexas: preciso de mais ou menos memória RAM? Qual é o melhor chip? O tamanho da tela ideal? Para poder fazer a melhor escolha, o consumidor deve tirar um tempo para comparar as opções existentes e definir aquela com a melhor relação entre custo e benefício para ele, certo?
No entanto, essa postura, que parece a mais racional, pode ter um custo mental enorme.
Para entender, veja o paradoxo do "burro de Buridan". A história vem do filósofo francês Jean Buridan: um burro faminto depara-se com dois montes de feno idênticos. Ele não consegue decidir qual é aquele que deseja e acaba morrendo de fome, no meio do caminho entre um monte de feno e outro.
Parece exagerado? Então pare para refletir sobre as consequências de não tomar uma decisão. No caso do comprador do notebook, enquanto ele pesquisa a melhor opção, gasta energia e perde tempo para, no final das contas, escolher entre alternativas que são muito parecidas entre si.
Enquanto o processo de tomada de decisão se arrasta, ele perde diversas oportunidades de uso da máquina. Além disso, tempo tem valor, a pessoa pode trabalhar ou fazer algo que lhe dê prazer.
O que está por trás desta questão é a dificuldade de escolher entre duas opções parecidas entre si. Quando vamos a um restaurante e olhamos o menu, eliminamos logo os tipos de prato que não desejamos no momento: carnes e peixe, por exemplo, para focar em massas.
Escolher entre um espaguete ou um linguine com molhos similares é muito mais difícil do que entre um espaguete e um robalo. Não é à toa que pessoas indecisas lidam melhor com cardápios com menos opções. Para ajudar nesse processo, temos alguns casos de sucesso de restaurantes que possuem duas ou três opções por dia e outros que se especializaram em um único prato.
Isso acontece pelo nosso desejo de manter as portas abertas. Ao tomarmos uma decisão, fechamos a porta para todas as alternativas que haviam anteriormente e fica apenas o sentimento de perda. "Será que escolhi o certo?". Esse sentimento chega até a ser vivido como uma dor - e tendemos a fugir disso, mantendo portas abertas e evitando certas decisões, a um custo elevado.
Em última análise, o custo de não decidir é maior do que o de optar por uma alternativa que pode não ser a melhor. O tempo, a energia e as oportunidades perdidas são consequências importantes e que não podem ser ignoradas.
Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)
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