É engenheiro civil e atua como empresário imobiliário há mais de 30 anos. É presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP. Escreve às segundas.
Cidades felizes
Pessoas felizes, cidades felizes! O propósito básico de uma cidade é tornar seus residentes felizes.
Segundo o escritor e urbanista Charles Montgomery, o ingrediente mais importante para a felicidade humana é a mistura de conexões sociais positivas: família, amigos, conhecidos e mesmo estranhos. Isso é o que pode nos conduzir em épocas mais difíceis e também dar significado às nossas vidas. Portanto, uma cidade social é uma cidade feliz.
Alguns aspectos são importantes para que se satisfaçam as necessidades psicológicas dos cidadãos e os façam, portanto, felizes. Modelos urbanos que despertem os sentimentos de segurança, liberdade, qualidade de vida e inclusão social. Mas será possível reestruturar edifícios, sistemas de transportes e espaços públicos para aumentar a felicidade da população em uma cidade?
A maneira como estão projetados e funcionam ruas e avenidas, sistemas de transportes, disposição dos espaços públicos e equilíbrio espacial das cidades exerce forte influência na maneira pela qual os cidadãos se sentem, comportam e mesmo como tratam as outras pessoas. E isso ocorre de uma forma que raramente é perceptível por todos.
Tornar uma cidade feliz é desenvolver medidas que possam combinar atributos de bem-estar, como saúde, desenvolvimento econômico, meio ambiente, educação e cultura, com aqueles que regem a vida particular, como relacionamentos, propósitos e objetivos. É criar espaços públicos de qualidade, onde as pessoas interajam umas com as outras, a fim de atingir esses objetivos.
Estudos de neurocientistas concluíram que as pessoas são mais felizes quando expostas à natureza e também quando caminham ao longo de ruas com portas, janelas, bares, restaurantes e lojas, do que em espaços sem esses atributos.
Felicidade e transporte também estão intimamente ligados. Pesquisa feita na Suécia mostra que as pessoas que demoram mais de 45 minutos diariamente para ir ou voltar do trabalho ficam 40% mais propensas a se divorciarem. Portanto, se as atividades são claramente um meio eficiente de produzir felicidade, o modo com que a cidade será planejada e construída influenciará, com certeza, o comportamento humano.
Professores da Universidade de Harvard examinaram os padrões de felicidade de algumas cidades americanas, baseando os resultados na demografia e renda locais. Eles concluíram que nas cidades menos populosas e em áreas rurais, em geral, as pessoas são mais felizes do que as que moram em áreas mais densas. O fato interessante é que as cidades consideradas menos felizes continuam a crescer bem mais do que as outras.
Fica claro que as pessoas podem sacrificar a felicidade por um determinado preço. Ou seja, os residentes em áreas metropolitanas podem abrir mão de dias mais felizes, eventualmente, pelos benefícios da boa infraestrutura, diversidade cultural e de maiores salários.
Cientistas da Universidade de Zurique descobriram, por exemplo, que uma pessoa que gasta uma hora no deslocamento de casa para o trabalho precisa ganhar 40% a mais para se sentir tão satisfeita com a vida quanto aquela que vai caminhando para o escritório.
O relatório mundial sobre felicidade lançado pela ONU em 2013 mediu o bem-estar de moradores de mais de 150 países, baseado em seis fatores principais: Produto Interno Bruto per capta; expectativa de vida saudável; ter alguém próximo, com quem possa contar; percepção de liberdade para fazer escolhas; inexistência de corrupção; e generosidade. A conclusão foi que pessoas mais felizes ganham mais, são mais produtivas e melhores cidadãos.
Portanto, se temos a oportunidade de mudar nossas cidades para acomodar as futuras gerações de uma forma diferente, congregando produtividade e bem-estar, vamos fazê-lo. Assim, podemos tornar as cidades mais eficientes e as pessoas mais felizes.
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