É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Polarização termina na votação e não vai ao Congresso
Olhando para a frente, em vez de apenas para os resultados agora anunciados, a principal característica da política brasileira é a sua disfuncionalidade.
Um país que está dividido praticamente ao meio (51,5% para o PT e 48,4% para o PSDB) não verá essa polarização reproduzida no campo de jogo natural da política, que é o Congresso Nacional.
Neste, haverá 28 partidos representados, o que rompe necessariamente a polarização.
É claro que Dilma construirá a sua maioria, superior aos 51,5% que teve, mas ela se fará com concessões aos partidos que, como de costume, aderem ao governo, seja qual for o governo eleito.
É ruim, porque a eleição foi um confronto entre dois projetos de país, não tão diferentes quanto quiseram fazer crer as campanhas, mas diferentes.
Em países civilizados, esse debate se reflete no Parlamento, inexoravelmente. São trabalhistas x conservadores no Reino Unido; socialistas x "populares" (conservadores) na Espanha; idem em Portugal; são republicanos x democratas nos Estados Unidos.
No Brasil, essa polarização se limita à eleição.
O governo de turno não fica sujeito aos pesos e contrapesos que são parte essencial das democracias avançadas.
Sem eles, resta saber se Dilma Rousseff encarará a vitória como um cheque em branco para fazer o que quiser ou se se assustou com a imensa dificuldade para se reeleger e tratará de fazer as adaptações necessárias para reconquistar uma maioria mais suculenta da sociedade.
Dilma pode pensar mais ou menos assim: se ganhei a eleição com o país em recessão técnica e com a inflação acima do teto da meta, vou continuar na mesma linha e danem-se os críticos.
Ou pode tomar nota da forte votação na oposição (superior à dela no primeiro turno) e corrigir os rumos.
De uma forma ou de outro, fica claro que a vitória de 2014 é de Dilma, ao contrário do pleito de 2010, em que Lula ganhou, pela interposta pessoa de Dilma.
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