É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Marco Aurélio Garcia se diz atingido por rejeição de Patriota
A rejeição pelo Senado do embaixador Guilherme Patriota para chefiar a representação brasileira na Organização dos Estados Americanos é um tiro no peito de Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático da Presidência desde o primeiro dia do governo Lula.
O próprio Marco Aurélio admite ter sido atingido: "Acertaram em mim porque tenho particular preocupação pela política externa brasileira. Privar a OEA da presença do Guilherme é uma atitude contra a política externa do Brasil".
Mesmo enfurecido como ficou, o assessor de Dilma não nega legitimidade à decisão do Senado.
Só acha que ela foi influenciada pelo que chama de campanha macartista de setores conservadores e da oposição. É uma alusão ao senador norte-americano Joseph McCarthy (1908-57), que via comunistas em cada esquina e a eles moveu implacável perseguição.
Hoje, domesticados os comunistas, a perseguição é aos "bolivarianos", rótulo que os críticos aplicam ao assessor presidencial e transferiram a Guilherme Patriota, pela simples razão de ter trabalhado com Marco Aurélio na Presidência.
Marco Aurélio repudia o rótulo. Define-se como "social-democrata de esquerda", nega que o modelo bolivariano da Venezuela sirva para o Brasil e afirma não aceitar "uma ruptura [institucional] do tipo revolucionário".
Sobre Guilherme Patriota, a vítima que levou o tiro a ele destinado, Marco Aurélio faz um elogio desbragado:
"Um dos mais brilhantes diplomatas não só de sua geração mas também dos que estão em operação no Itamaraty".
A acusação de "bolivarianismo" frequentemente sapecada contra Marco Aurélio tem como corolário inevitável a pressuposição de que ele é também antinorte-americano.
É uma tolice. Primeiro porque Marco Aurélio manteve uma interlocução permanente e próxima com ninguém menos que o general Jim Jones, então chefe do Conselho de Segurança Nacional norte-americano.
Ajudou com isso a elevar as relações bilaterais ao melhor nível em todos os tempos, na avaliação de ambas as partes –exatamente o contrário do que faria qualquer "bolivariano" que se prezasse.
Jones nem é o contato mais substancioso, mas Marco Aurélio reserva para as memórias que pretende escrever depois que deixar o cargo o relato desses outros vínculos com Washington.
Para desmontar a teoria conspiratória do antinorte-americanismo, basta ver a ênfase dos Estados Unidos em buscar recuperar o nível das relações bilaterais, arranhadas pelo episódio da espionagem nos telefones da presidente Dilma Rousseff.
Furo de reportagem: não foi Marco Aurélio quem organizou a espionagem nem quem a divulgou.
Além de atingir Marco Aurélio por elevação, há consenso no Planalto e no Itamaraty de que o Senado também buscou minar a própria Dilma, como uma espécie de compensação pela aprovação, no mesmo dia, de Luiz Edson Fachin para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal.
Se de fato não havia, como parece não haver, razão profissional para vetar Patriota, cria-se uma instabilidade grave para a diplomacia.
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