É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Brasil volta aos velhos amigos
A presidente Dilma Rousseff investiu duas horas e meia de seu tempo, na semana passada, em reunião com nove de seus ministros para discutir um único assunto: a sua viagem aos Estados Unidos, na próxima semana.
Prova do interesse que tem no êxito dessa missão.
Do lado norte-americano, o interesse não é menor, do que se infere de frase de Thomas Shannon, ex-embaixador no Brasil e hoje conselheiro do Departamento de Estado, em texto enviado a um seminário de que não pôde participar.
Afirmou Shannon: "Continuo convencido de que o relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos será um dos relacionamentos que definirão o século 21".
Pena que o carinho mútuo não tenha sido suficiente para elaborar, até agora, uma agenda realmente suculenta.
Em parte por isso, a grande graça da visita de Dilma estará na indicação sutil de uma reorientação da política externa brasileira.
No período Lula/Celso Amorim, a ênfase esteve mais na relação Sul/Sul, ou seja, com os chamados emergentes. Agora, ela se volta para o Norte ou, mais amplamente, para o Ocidente.
É significativo que as viagens de Dilma neste primeiro semestre e uma que planeja para mais adiante tenham sido e será para países ocidentais (México, Estados Unidos, Japão no futuro próximo, embora este seja ocidental apenas politicamente, não geograficamente).
Sem contar o desejo de retomar a negociação Mercosul/União Europeia, manifestado em Bruxelas, a outra grande capital ocidental.
A cúpula do Itamaraty prefere não usar a palavra reorientação ou qualquer sinônimo. Prefere dizer que se trata de fazer funcionar os eixos tradicionais da diplomacia brasileira, sem, no entanto, deixar os menos tradicionais de lado.
O Itamaraty faz questão de lembrar que uma das primeiras viagens do chanceler Mauro Vieira foi à África, o continente ao qual Lula/Amorim deram extraordinária atenção.
Seja como for, a nova ênfase se insere na decisão do chanceler de fazer uma política externa combinada com o conjunto de ministros, em vez de deixá-la sob o virtual monopólio que o Itamaraty sempre exerceu.
Se é assim, pesarão as duas pastas (Agricultura e Desenvolvimento, Indústria e Comércio) que têm mais interesse no comércio global, uma das principais vertentes da diplomacia contemporânea
As duas são chefiadas por personalidades vindas do mercado, Kátia Abreu e Armando Monteiro.
É natural que defendam políticas pró-mercado, o que acaba se confundindo com Ocidente e, ainda mais naturalmente, com o líder ocidental que são os Estados Unidos.
Aliás, é bom saber que recente pesquisa do Pew Research Center revela que quase dois terços dos brasileiros (63% exatamente) confiam nas posições que o presidente Barack Obama adota em política internacional.
É uma porcentagem superior à dos norte-americanos com idêntica confiança e à dos três vizinhos que participaram da pesquisa (Argentina, só 40%; Chile, 60%; Peru, 53%).
Se é assim, a reaproximação com os EUA terá mais aplausos do que vaias, coisa rara no atual momento do governo Dilma.
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