É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Unasul joga sua credibilidade em Caracas
Com um atraso que a compromete, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) finalmente decidiu enviar uma missão de observação às eleições parlamentares de dezembro na Venezuela.
É tarde, mas é melhor do que nada.
Digo tarde porque o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro havia marcado 15 de outubro como a data mais conveniente para iniciar a observação.
Seria pouco mais de um mês e meio antes da votação (dia 6 próximo), já que uma missão que vá ao país apenas nas imediações do pleito não tem como analisar a equidade no processo eleitoral, segundo a nota oficial que o TSE divulgou, ao desistir de participar.
Agora, 6 de novembro, a missão ainda nem sequer tem um presidente designado, depois do veto branco da Venezuela a Nelson Jobim, escolhido pelo TSE e referendado pela presidente Dilma Rousseff.
Eduardo Knapp - 18.out.2015/Folhapress | ||
O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim |
A campanha já está em pleno andamento, e uma das manobras já foi feita, antes mesmo do 15 de outubro que o TSE definira como data mínima: o governo reformulou os distritos eleitorais, de forma a dar maior número de cadeiras a regiões em que o chavismo é mais forte.
Como bem observou em carta à Folha o leitor Luiz Roberto da Costa Júnior, uma eleição com votação por distritos pode dar maior número de cadeiras a um grupo mesmo que tenha menor número de votos globais (no Reino Unido, por exemplo, o Partido Conservador ficou com a maioria absoluta das cadeiras mesmo tendo ficado longe da maioria absoluta dos votos, conforme texto neste espaço na ocasião).
De todo modo, a vantagem da oposição nas pesquisas e o fortíssimo desgaste do governo, criticado até pela ultraesquerda chavista, indicam que, em condições de competição livre e justa, a oposição tende a fazer maioria.
Caberá, pois, à missão da Unasul apontar se a disputa é justa e livre.
Livre dificilmente se pode dizer que seja, já que estão presos políticos opositores importantes (e puxadores de voto) –e presos de forma arbitrária, como Leopoldo López, conforme acaba de apontar o promotor do caso, agora refugiado nos Estados Unidos.
A questão central passa a ser, portanto, se a missão da Unasul, em que os países bolivarianos são minoria, mas mais estridentes do que a maioria, terá a coragem de apontar essas e outras eventuais irregularidades ou preferirá limitar-se a um "turismo eleitoral".
Boris Vergara - 4.nov.2015/Xinhua | ||
Funcionário do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela testa tinta que será usada na eleição |
Essa expressão é de Vicente Díaz, ex-reitor do Conselho Nacional Eleitoral venezuelano, em declarações ao sítio oposicionista TalCual.
Refere-se ao fato de que chegar em cima da hora não permite, diz o especialista, comprovar "a luta do cidadão comum que se postula a um cargo frente ao nível de apoio com que contam os candidatos do oficialismo pelo uso dos recursos públicos e do Estado".
Como o Brasil aprova a missão da Unasul, joga sua credibilidade junto com a instituição regional.
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