Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Rebuliço na organização da Olimpíada
A definição do novo ocupante do comando da Autoridade Pública Olímpica, a APO, provoca tensão nos preparativos dos Jogos Olímpicos. Este cargo está vago há mais de dois meses, levantando muita poeira.
Um desfecho foi desenhado na última semana, com o convite feito pelo governo federal à ex-jogadora de vôlei Ana Moser para ocupar o posto. Mas ela ainda não se manifestou. Caso a resposta seja positiva, a aprovação do indicado terá de ser submetida à ratificação do Senado.
Órgão criado em 2011 para fiscalizar e para harmonizar as relações entre União, governos estadual e municipal e o comitê organizador nos preparativos dos Jogos Olímpicos, o reconhecimento da APO parece não contar com o entrosamento, a simpatia e o respaldo desses entes.
Situação intrigante, porque o papel do órgão é acompanhar de perto a evolução das obras e os gastos com o grande evento, estimados até agora em cerca de R$ 38 bilhões, uma fortuna, a maior parte dela a ser coberta pelos cofres públicos.
Moser nada revelou sobre sua intenção, postura atribuída ao fato de ainda não ter respondido ao convite. É complicado, disse, numa situação dessas só se deve falar no seu tempo. Ou seja, apenas quando a situação estiver definida, a posição tornada pública.
O retrospecto histórico do postura de Moser no mundo dos esportes ajuda um pouco a entender a demora na resposta. Ela sempre se manifestou contra a realização dos Jogos no Brasil por causa da ausência de políticas públicas na área esportiva, falta de um planejamento adequado para legado e para a massificação do esporte. Suas críticas ultrapassaram as fronteiras do país.
Recentemente, chegou a criticar a escolha do político e pastor religioso George Hilton (PRB-MG) para o Ministério do Esporte. Após um contato com o ministro, voltou atrás, mostrando alguma esperança nas intenções do governo.
Mas se estas podem ser circunstâncias que provocam o silêncio da convidada, o mesmo não ocorre na esfera das áreas envolvidas. Segundo o colunista Lauro Jardim, do Radar on-line, o convite à ex-atleta deve criar um racha entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e o governo federal.
Antes mesmo de a convidada anunciar se aceita ou não o convite, o prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ) teria dito a interlocutores que deixará o consórcio com a União e o governo do Estado caso o nome seja aprovado no Senado. Estaria irritado por não ter sido consultado sobre a indicação. Portanto, um rebuliço está armado na reta final para a Olimpíada.
O entrevero é um indicativo de que o prefeito tem a intenção de controlar a organização da Olimpíada. Na verdade, ele nunca fez questão de valorizar a APO. Pelo contrário, sempre deixou claro que nunca viu o órgão com bons olhos, e sim como um estorvo.
Indicados pelo Palácio do Planalto, os dois presidentes anteriores da APO, o ex-ministro das Cidades Márcio Fortes e o general Fernando Azevedo e Silva, pediram demissão. Fortes passou o tempo todo desprestigiado no cargo e Azevedo e Silva, após receber sua quarta estrela, priorizou a carreira militar, indo para o Comando Leste, lá mesmo no Rio.
A presidente Dilma Rousseff cogitou lançar mão de um político de confiança para a APO. Assim despontou o nome de Edinho Silva, que via terminar seu mandato de deputado estadual (PT-SP).
O ex-prefeito de Araraquara também desfrutava de prestígio pelo fato de ter sido o tesoureiro da campanha da reeleição da presidente. A especulação acabou atropelada por outros fatos políticos, e Silva assumiu a Secretaria de Comunicação da Presidência. Mas ele teria apontado o nome de Moser à Dilma, que se entusiasmou com a sugestão de uma mulher para o cargo.
Tudo havia voltado à estaca zero na APO, até surgir o convite à Moser. A diferença entre o momento atual e os anteriores é a situação de tensão, a incerteza provocada pela postura do prefeito Paes, reveladora da faceta de que ele se julga o protagonista da Olimpíada.
Ainda sem resposta, o convite cria um clima de suspense, e acelera tensões, já impulsionadas pela aproximação dos Jogos, atraso em obras, custos e pagamento de contas.
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