Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Poluição deveria preocupar o Rio, não os Jogos Olímpicos
Embora corriqueiras, notícias sobre a poluição da baía de Guanabara são sempre relevantes. Ganham mais destaque por conta dos Jogos Olímpicos, em agosto próximo, com eventos esportivos programados para as águas da baía.
O apelo tem motivação na especulação sobre a (in) segurança dos atletas. Entretanto, os riscos à saúde da população e ao meio ambiente são as preocupações primordiais que, no cotidiano, deveriam prevalecer, mas parecem não ocorrer.
Curiosamente, na semana passada o prefeito do Rio, Eduardo Paes, comentando sobre o problema, fez a ressalva de que a poluição da baía de Guanabara não é um tema olímpico, mas sim das cidades da região metropolitana do Rio, que lançam diariamente esgoto no local. Ficou por aí, sem falar em solução, colocando a questão como um desafio que não foi resolvido. E voltou a atrelar o assunto aos Jogos, justificando que os problemas não se verificaram em dois eventos-teste ali realizados.
Balela, já que a preocupação deveria estar voltada exclusivamente à cidade e aos seus moradores. Os atletas simplesmente desfrutariam dos benefícios, cena que não passou de sonho.
Apesar disso faz algum sentido aquela afirmação do prefeito sobre a poluição não ser tema olímpico. No caso, a Olimpíada teria a virtude de servir apenas de alavanca para acelerar a despoluição. Os direitos de hospedagem e da organização dos Jogos foram concedidos ao Rio em 2009.
Tempos atrás, quando se verificou a impossibilidade de atingir a meta de despoluição de 80 por cento das águas despejadas na baía, em vez de os trabalhos serem intensificados, eles chegaram a ser paralisados.
O governo estadual do Rio atravessa uma grave crise financeira e não encontrou saída para essa grave questão ambiental. Mesmo assim, a imagem que os organizadores passam sobre as condições da baía para os eventos olímpicos é a de que estão dentro das recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Em dezembro último, no entanto, as contradições sobre a qualidade das águas provocaram ruídos na World Sailling, entidade que comanda a vela no mundo. O inglês Peter Sowrey, que atuava como CEO da entidade, queria tirar as provas da modalidade da baía de Guanabara. Acabou demitido e sob ordem de não falar sobre o assunto.
A alternativa proposta por Sowrey seria levar as competições de vela para Búzios. Tanto ele como o cartola que o substituiu, o também inglês Andy Hunt, disseram à agência de notícias AP (Associated Press) que as imagens de cobertura da TV de pontos turísticos do Rio foram um dos motivos para a manutenção da baía de Guanabara. Situação intrigante.
As discussões continuam indo e voltando, flutuando como os dejetos nas águas. Um esforço derradeiro nos trabalhos de despoluição até agosto não atingirá a meta ideal, mas ajudará a tornar aquele local menos perigoso para a saúde dos atletas e a dos moradores do Rio.
A Olimpíada vai acontecer, e a poluição da baía de Guanabara é um ponto crucial, que continua provocando desgaste da imagem do Rio e deixando à mostra a falta de solução política para questões sociais daquela região.
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