Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.
O Templo de Salomão é um monumento à fé
A Igreja Universal do Reino de Deus inaugurou em São Paulo seu Templo de Salomão. É uma construção monumental, capaz de receber 10 mil pessoas, o dobro da lotação da Basílica de Aparecida. Sua fachada tem 56 metros de altura, 13 metros mais que a de São Pedro, em Roma. Custou zero à Viúva e foi erguida com dinheiro da fé do povo.
O Templo de Salomão haverá de se tornar um símbolo da cidade e da fé dos brasileiros. Esse aspecto supera as tramoias administrativas praticadas na sua construção. (O templo foi erguido como se fosse apenas a reforma de uma edificação demolida.) A fé dos evangélicos costuma ser depreciada, como se fosse produto da ingenuidade do andar de baixo.
É pura demofobia.
As denominações evangélicas expandiram-se associando fé religiosa e autoestima a um sentido de comunidade. Há bispos evangélicos vigaristas, sem dúvida, mas até hoje o papa Francisco batalha para limpar a Cúria vaticana.
O padre Marcial Maciel, um pedófilo promíscuo, quindim da plutocracia mexicana e figura influente no pontificado de João Paulo 2º, não pode ser usado para para discutir a espiritualidade dos seus fiéis. O bronze das magníficas colunas do baldaquim de São Pedro foi tirado do Pantheon romano. A catedral da Cidade do México foi construída com as pedras coletadas na destruição do templo azteca de Tenochtitlán.
Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O Templo de Salomão, como a Basílica de São Pedro e a Catedral do México, são símbolos da fé dos povos. Quem não consegue entender a fé alheia pode se habilitar a um pacote turístico de três dias em Gaza.
EREMILDO NO SANTANDER
Eremildo é um idiota e acredita que o doutor Emilio Botín, presidente do Banco Santander, armou uma ratoeira que poderá destruir seu banco e o sistema financeiro internacional.
O doutor Botín anunciou que demitiu o responsável pelo desenho de um cenário pessimista para a economia brasileira caso o PT vença a eleição presidencial. O cretino teme que a Doutrina Botín resulte na demissão de funcionários que, por quaisquer razões, façam previsões impróprias. Irão para a rua milhares de sábios-consultores, começando pelos que deram opiniões sobre a economia espanhola.
Eremildo exclui a possibilidade de o doutor Botín ter amarelado por pura pusilanimidade.
NATASHA NO SANTANDER
Madame Natasha encantou-se com uma declaração do ministro Admar Gonzaga, que ocupa uma cadeira no Tribunal Superior Eleitoral por indicação da Ordem dos Advogados do Brasil.
Referindo-se ao patrulhamento de uma análise do Banco Santander enviada aos seus clientes, ele teve o seguinte diálogo com o repórter Juliano Basile:
- As consultorias não podem elogiar ou criticar candidatos?
- Não podem adjetivar.
A senhora concedeu uma bolsa de doutorado ao ministro, para que ele ensine aos outros como se expressar sem o uso de adjetivos.
PADRÃO SANTANDER
Se previsão errada (segundo a métrica petista) é motivo de demissão, o ministro Guido Mantega não deve ir trabalhar amanhã, pois perdeu o emprego há anos.
Mais: pela retórica eleitoral da doutora Dilma, Lula deveria justificar a sua teoria segundo a qual a crise de 2008 provocaria apenas uma "marolinha" no Brasil.
Com o Banco Santander ajoelhando no milho para agradar ao Planalto, ressurgiu a memória do infame lulômetro, criado na casa Goldman Sachs em junho de 2002, durante a campanha que elegeria Lula.
LULÔMETRO
A Goldman Sachs não deve ir para uma vala que não é a sua. O lulômetro tinha duas elegantes equações, com quatro variáveis que ficavam à escolha do interessado. Preenchidas, forneciam o valor do dólar caso Nosso Guia fosse eleito. Refletiam a expectativa do curioso, não a do banco. Quem acreditasse que Lula manteria a política de Fernando Henrique Cardoso, obteria um dólar barato. Muita gente ganhou dinheiro com essa expectativa.
Instrumento de terror eleitoral, o lulômetro só produzia efeito se a pessoa estivesse aterrorizada.
Para o bem de todos, o Goldman Sachs apanha até hoje por causa do gracejo. Teria repreendido o autor internamente, mas nunca pediu desculpas.
RECORDAR É VIVER
Em 1973, o Bradesco negociava a compra do Banco da Bahia. O governador Antonio Carlos Magalhães não gostou da ideia de um banco paulista ficar com a tradicional casa baiana. Começaram depredações de agências do Bradesco em Salvador.
Amador Aguiar, o criador e dono do Bradesco, foi discutir a operação com ACM e deu-se o seguinte diálogo:
- Doutor Amador, o povo baiano zangou-se com a venda do Banco da Bahia. Estão quebrando suas agências.
Amador interrompeu-o:
- Governador, não trate esse assunto comigo. A manutenção da ordem pública na Bahia é um problema seu.
(ACM contava essa história para mostrar a têmpera de Amador Aguiar.)
OS EMPREITEIROS NO ESCURINHO DO RECESSO
O senador Pedro Simon ensinou: "Não esperem nada do Congresso". É pior, esperem de tudo. Está na pauta do Senado para terça-feira a votação do projeto PLS 559.
Pelo nome, altera a Lei de Licitações para uso de dinheiro público.
Pelo texto, simplesmente revoga a lei 8.666, colocando no seu lugar um novo sistema de contratações de serviços e empreitadas.
A 8.666 não é nenhuma Brastemp, mas o que vem por aí é um mecanismo que alivia as exigências feitas às empreiteiras, expande o poder dos comissários e generaliza as facilidades criadas pelo regime especial das obras da Copa. Sua tramitação teve a rapidez do raio.
Começou em dezembro, não seguiu o ritual das comissões técnicas e arrisca ser votado naquilo que os senadores chamam de "esforço concentrado" (nome dado ao esforço que concentra seus interesses).
Isso tudo ao apagar das luzes de uma legislatura e no meio da colheita das campanhas eleitorais.
Mesmo sabendo-se que existe uma indústria de projetos, é discutível que se façam "contratações integradas" pela vontade dos empreiteiros e burocratas apressados.
O edital da licitação do sistema BRT de Belo Horizonte saiu num dia 5 de maio, os concorrentes tinham até dia 31 para apresentar os projetos, e a contratação ocorreu a 27 de junho. Monstrengos como o aeroporto de Guarulhos saíram das planilhas das construtoras. Joias como o projeto de 1937 do aeroporto do centro do Rio, de concursos públicos.
Há poucas semanas apareceu uma emenda que permite ao vencedor de uma licitação destinada a construir um aeroporto, ou seja lá o que for, a exploração comercial da obra. Assim a empreiteira faz a obra e leva o shopping. Tudo isso com uma só licitação.
Esse voluntarismo rondou o Trem-Bala. Não havia projeto nem estudo de viabilidade, mas o faraó queria fazer a obra. Felizmente, num caso raro, os empreiteiros não se interessaram pela pirâmide.
Livraria da Folha
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