Nascido em Santo Anastácio (SP), em 1978, é autor de 'Esquimó' (Cia. das Letras, 2010) e 'Golpe de Ar' (Ed. 34, 2009). Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Palhaço
ERRATA
Na edição de 6 a 12 de abril desta revista sãopaulo publiquei uma crônica sobre os 20 anos da morte de Tom Jobim, na qual comentava a letra de "Samba do Soho" como um exemplo de sua poesia simples e perfeita.
Dias depois recebi um e-mail de um leitor, que me corrigia: "Samba do Soho" não é do Tom Jobim, mas uma parceria de seu filho Paulo com Ronaldo Bastos.
Peço desculpas pelo equívoco. Apesar de achar que o erro é menos do cronista que do gênio carioca, que não teve a delicadeza de escrever antes da dupla essa canção que é a cara dele.
Ilustração Guazelli | ||
ERRADO
Às quatro da manhã, por trás de uma trincheira de garrafas vazias de cerveja, alguém levanta a dúvida: é "cordas de aço" ou "nervos de aço"? Repasso mentalmente os versos — "Ah, esses nervos de aço/ Esse minúsculo braço/ Do violão que os dedos meus acariciam" — e digo: é "nervos".
Bruno Brum, poeta a quem no começo da noite mostrei minha coleção de livros de poesia, contesta: é "cordas". E eu: é "nervos". E ele: é "cordas". E eu (ou a minha arrogância):
— Quer apostar meu Nicanor Parra? Se eu perder você fica com ele, se eu ganhar você não precisa me dar nada.
Um amigo saca o iPhone do bolso e acaba com a discussão: "cordas de aço". "Nervos de Aço" é o samba de Lupicínio Rodrigues — "Há pessoas com nervos de aço/ Sem sangue nas veias e sem coração". Nada a ver com o "Cordas de Aço" do Cartola.
Como sabe que a obra completa de Nicanor Parra é um dos meus volumes mais valiosos (simbólica e monetariamente), Bruno, generoso, tenta me convencer de que não preciso pagar a dívida. Entre o prejuízo e o calote, resolvo abrir mão de uma coletânea de contos de John Cheever, que é ótimo mas, ao contrário de Parra, não está na lista dos meus autores favoritos.
REALMENTE
Às quintas-feiras eu dava as três primeiras aulas, de redação, em três diferentes segundos anos do ensino médio. A aula era a mesma pra todas as classes — uma exigência da direção da escola.
Aquela era a terceira aula do dia, e no texto, que eu já tinha lido duas vezes e agora leria a última, havia seis ou sete ocorrências da palavra "nexo".
De repente me dei conta de que não lembrava como se pronuncia: "necso" ou "nécsico"? Entrei em pânico. E tive uma ideia bizarra: alternaria "necso" e "nécsico", e na pior das hipóteses os alunos ficariam confusos, mas não chegariam a descobrir a trapaça.
Arrisquei um "necso". Nenhuma reação estranha. Ao ouvir porém o primeiro "nécsico", 50 adolescentes levantaram a cabeça na minha direção. Ao ouvir o segundo, começaram a se agitar nas carteiras e a fofocar com os vizinhos. Ao ouvir o terceiro, as risadas e os gritos explodiram no ar, canetas foram jogadas contra o ventilador, o chão tremeu sob o bate-estaca de pés excitados — rente às minhas orelhas passaram voando borrachas e bolas de papel.
Sim, o mundo é cruel.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade