É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
Dilma x Dilma
A presidente Dilma deu chilique com o possível efeito das previsões do mercado financeiro sobre sua campanha à reeleição.
Dilma deveria estar preocupada mesmo com a visão de mais longo prazo que o mercado tem.
Ela prevê um Brasil de crescimento baixo até onde a vista alcança; e o desmonte de vários problemas atuais, como congelamento de preços públicos.
No último ano do governo Lula (2010), o Brasil cresceu 7,5%, a maior taxa em 25 anos. De lá pra cá, ficamos em uma média de 2%. Em 2014, perto de 1%.
O "espetáculo" do crescimento até o fim da era Lula foi impulsionado pelo crédito ao consumo.
Entre 2004 e 2012, ele cresceu a taxas anuais de 8%, movimentando comércio, indústria e o mercado de trabalho.
O volume de crédito mais que dobrou. Passou de 24% para 56% como proporção do PIB em pouco mais de dez anos.
Foi bom enquanto durou, mas há um esgotamento aí. Especialmente com os juros escorchantes praticados no Brasil.
O esperado era que o investimento das empresas e na infraestrutura assumisse, com Dilma, o papel que o consumo teve nos anos Lula.
A taxa de investimento em relação ao PIB fechou o 1º trimestre do ano em 17,7%. É o percentual mais baixo desde 2009, de antes da posse de Dilma. Andamos para trás.
Ao mesmo tempo, houve atrasos e uma série de problemas criados pelo governo nas concessões das obras para infraestrutura, que demoraram a ser iniciadas.
O resultado está bem na nossa frente: crescimento medíocre e inflação alta, pressionada por um mercado de consumo e serviços com oferta limitada pela falta de investimentos e infraestrutura.
A Bolsa sobe ou desce mesmo ao sabor de pesquisas e dados econômicos. Dilma não tem muito do que reclamar.
Fato é que não entregou o que se esperava dela.
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