É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
Raposas sustentam o 'coração' de Temer
Está adiantada a montagem do novo governo Michel Temer e é provável que medidas sejam anunciadas já entre quinta e sexta próximas, na sequência da votação contra Dilma Rousseff no Senado.
A expectativa positiva com Temer já foi precificada. A Bolsa sobe 20% no acumulado do ano e o dólar cai 12% (depois de subir 48% em 2015). Haverá alguma trégua dos mercados no "esperar para ver".
O calcanhar do novo presidente é a chamada "economia real", empresas que empregam e pagam salários. Elas dependem de expectativas futuras positivas, mas vivem mesmo é no dia a dia, que está horrível.
O ministério montado por Temer é mais político do que técnico. Terá dentro do Planalto raposas famosas como Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha. Procurará atender partidos fisiológicos ao desistir agora da redução de ministérios.
Dilma caiu porque não conquistou a "governabilidade". Temer sobe ansioso por consolidá-la.
É clara a estratégia: ter apoio político para irrigar e sustentar o coração do novo organismo, um Ministério da Fazenda técnico, comandado por Henrique Meirelles.
A grande pergunta é se o novo governo conseguirá separar o apoio político de que precisa da agenda econômica que pretende colocar em prática o mais rápido possível.
A situação da economia é tão devastadora que parece possível a Temer ligar um rolo compressor para aprovar uma série de medidas.
A dúvida é até onde ele chega. E se os políticos interesseiros e calculistas em cima dele terão sangue frio para esperar por seus resultados.
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O quadro abaixo é um grande indicador da "economia real". O primeiro quadrimestre de 2016 registrou alta de 97% no total de empresas em regime de recuperação judicial.
Elas entram em acordos com seus credores via Justiça para tentar pagá-los e continuar vivas. Por trás e além desses números estão boa parte dos 11 milhões de desempregados no pais.
O salto no índice é pior do que parece. Até 2013, as grandes empresas (que faturam mais de R$ 50 milhões/ano) somavam entre 10% e 15% dos casos. Hoje, chegam a 20%.
Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa, 2016 alcançará o recorde de 1.800 recuperações judiciais.
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