É arquiteto graduado pela USP.
Carnaval e design em Atenas
Grécia enfrenta evasão de talentos em meio à descrença nos políticos e falta de suporte à criação
Cheguei a Atenas bem na noite do carnaval grego e, entre muita gente fantasiada pelas ruas, deparei com a impressionante imagem do Partenon iluminado ao fundo. Eu estava ávido por descobrir essa cidade e pesquisar sua cena de design.
Inaugurado em 2009 e com projeto excepcional do suíço Bernard Tschumi, o Museu da Acrópole é uma aula de arquitetura contemporânea e respeito à história. O edifício eleva-se do chão e, com piso transparente, revela as escavações da cidade ancestral.
O museu está posicionado estrategicamente (paralelo à Acrópole) e exibe estátuas, cerâmicas e partes originais do Partenon. O cenário é um convite a viajar no tempo e reconhecer hábitos, modos de viver e projetar os espaços que herdamos dos gregos.
Entrevistei a designer Christina Kotsilelou, do "Greece is for Lovers", um dos poucos escritórios de design locais de relevância internacional que ainda permanecem no país após a crise de 2008, lutando bravamente contra a recessão econômica.
Seus móveis e objetos carregam ironia e referências à Grécia, como no abridor de cartas em forma de raio de Zeus ou no busto de Dionísio maquiado de vocalista da banda Kiss.
Ela me conta como a descrença nos políticos, a enorme corrupção e a falta de suporte a artistas e designers levaram a maior parte dos jovens criativos a migrar para outros países.
Também passeei com a "fashion designer" Eleftheria Arapoglou pela interessante Exarchia, onde fica o ateliê de criação da sua marca de roupas. Trata-se de um suposto bairro anarquista da cidade e onde a polícia não é bem-vinda.
Exarchia foi um dos palcos dos protestos que se iniciaram em 2010 e cujos líderes ainda vivem escondidos, amparados pela vizinhança que os acolhe. Em toda a cidade encontrei um certo ar de destruição, manifestações e grafites políticos, o que me fez lembrar da minha casa –São Paulo.
Deixo Atenas pensativo, lembrando-me da falsa euforia econômica e da insegurança que vivemos. Não investimos em educação e estimulamos demais o espírito consumista que, agora, domina o Brasil.
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