É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
O fim das mordomias
SÃO PAULO - Deu na Folha que senadores são reembolsados por gastos ligados à atividade parlamentar que ultrapassam duas centenas de milhares de reais. No ano passado, a Casa pagou R$ 23,2 milhões para ressarcir os 81 senadores de suas despesas com segurança, consultoria e divulgação de atos. Pior, há um forte cheiro de superfaturamento. Um de nossos valorosos parlamentares torrou R$ 185 mil na criação e manutenção de seu site, um serviço que, no mundo real, dificilmente custaria mais de R$ 10 mil.
Somem-se a esse mecanismo de compensações as verbas de gabinete, o quinhão de passagens aéreas e a cota de contratação de auxiliares, entre outros benefícios, e não dá para recriminar os cidadãos por acharem que congressistas em geral e senadores em particular levam uma vida nababesca à custa do contribuinte. Igualmente grave, os escândalos periódicos que pipocam nessa seara ajudam a corroer ainda mais a reputação do Parlamento.
Meu palpite é que o acúmulo de benesses causa mais danos à imagem do Congresso do que o volume efetivo de gastos. Minha sugestão, assim, é que dupliquemos ou até quadrupliquemos (o valor exato é uma questão de fazer as contas) os vencimentos dos parlamentares e, em contrapartida, que todos os pagamentos extras e mordomias sejam extintos.
Cada representante faz o que achar melhor com o dinheiro. Se quiser contratar 20 assessores ou nenhum, é uma decisão de foro íntimo. Se o escritório precisa de clipe, cabe ao parlamentar providenciar. Na hora de visitar as bases, pode escolher se vai de avião ou de ônibus, hipótese em que embolsa a diferença.
A grande vantagem desse esquema é que os deputados e senadores tenderiam a ser mais parcimoniosos em seus gastos e não precisaríamos mais perder tempo em infrutíferas discussões metafísicas sobre se a despesa X configura-se ou não como um gasto parlamentar legítimo.
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