É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
A liberação do jogo
SÃO PAULO - Não cabe ao Estado agir como superego do cidadão. O poder público pode e deve informar, aconselhar e estimular as pessoas a fazer o que é melhor para elas (imaginando, é claro, que possa haver consenso nessa matéria), mas de modo algum obrigá-las a isso.
Nesse contexto, e discordando do grande Janio de Freitas, vejo com bons olhos a proposta de liberar apostas on-line em partidas de futebol. Eu iria ainda mais longe e revogaria todas as disposições legais dos anos 40 que baniram do país os chamados jogos de azar. Se é lícito que um sujeito torre todo o dinheiro dele em maus investimentos na Bolsa ou com prostitutas, não vejo motivo para impedi-lo de obter o mesmo resultado na roleta ou no bacará.
Há, é verdade, o problema do jogo patológico, mas esse é um ônus individual. Assim como não se defende o fechamento dos bares para facilitar a vida dos alcoólatras nem a proscrição de confeitarias para aliviar a barra dos diabéticos, não faz sentido eliminar um ramo de atividade econômica para tornar mais administrável uma compulsão que não afeta muito mais que 1% da população (as prevalências de alcoolismo e diabetes são de 11,2% e 7,6%).
Discordo, porém, da forma como a liberação seria introduzida. A vingar a proposta ora em discussão, recursos auferidos por meio da tributação das apostas seriam destinados à renegociação das dívidas dos clubes de futebol. Não há vinculo necessário entre as duas atividades. Não é porque eu aposto que não choverá amanhã que parte dos recursos deve ir para o instituto meteorológico.
Os clubes já receberam (e desperdiçaram) vários pacotes de ajuda. Já é hora de deixá-los quebrar. Mesmo que um grande vá para a bancarrota, marcas como Corinthians ou Flamengo têm valor de mercado, o que sugere que seriam arrematadas por alguém mais competente do que os atuais cartolas –o que não parece muito difícil– e seguiriam existindo.
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