É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Arquitetura flex
SÃO PAULO - Eduardo Giannetti aparentemente me incluiu na brigada de colunistas que destila rancor contra Marina Silva. Estranho um pouco a colocação, já que, no texto que a motivou, eu defendia a candidata da acusação de que sua religiosidade se deve a alguma anomalia no desenvolvimento neural.
É claro que era uma defesa "cum grano salis", como convém ao jornalista, e não uma apologia de militante. O que eu fundamentalmente afirmei é que a arquitetura cerebral humana é de tal ordem que permite que uma pessoa acalente ideias, digamos, exuberantes numa esfera e aja de forma racional nas demais.
De modo específico, Giannetti afirma que Marina nunca endossou o criacionismo bíblico. Pode ser, mas, felizmente, não dependemos só do que um candidato diz de si mesmo para conhecê-lo –o que seria trágico para a democracia. Filiações institucionais também revelam algo sobre uma pessoa. E Marina Silva, mais que fiel, é evangelista da Assembleia de Deus (AD), a rede de igrejas independentes unidas por crenças em comum. Elas estão consubstanciadas num conjunto de 16 "verdades fundamentais" das quais a primeira é a infalibilidade da Bíblia.
Não estamos aqui falando de uma infalibilidade "light". Documento teológico adotado oficialmente pela AD dos EUA afirma que as Escrituras são divinamente inspiradas, infalíveis e isentas de erro. Em relação às supostas contradições entre achados da ciência e livros bíblicos, os teólogos dizem que a ciência e o tempo darão razão... às Escrituras.
E isso nos traz de volta ao ponto de partida. Apesar de eu considerar essas ideias bem bizarras, não penso que o fato de Marina estar até certo ponto comprometida com elas a inabilite para governar um país. A razão que me leva a acreditar nisso, além da arquitetura cerebral maleável e do passado da candidata, é que ela soube cercar-se de conselheiros que respeito, como Eduardo Giannetti.
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