É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Reforma da reforma
SÃO PAULO - Na tentativa de salvar seu mandato, a presidente Dilma Rousseff nomeou o deputado federal Marcelo de Castro, do PMDB que quer permanecer governista, para o posto de ministro da Saúde. Por razões insondáveis, Castro nomeou o psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho para o cargo de coordenador de saúde mental, álcool e outras drogas do ministério.
O problema é que Duarte Filho é visto nos meios médicos como um adversário da chamada luta antimanicomial, o que deslanchou uma onda de protestos de militantes e de profissionais da área contra a indicação. O PT, obviamente, continua sendo um fiel entusiasta do movimento que pretende pôr fim aos hospitais psiquiátricos no país, mas, como o ministério foi cedido com "porteira fechada", o titular da pasta nomeia quem bem entender.
No mérito, penso que os militantes têm alguma razão ao se queixar. Embora eu não conheça Duarte Filho, que pode ser um profissional muito competente, certos cargos funcionam como sinalizadores de políticas. Se o governo não tem a intenção de rever suas diretrizes para a saúde mental, não deveria pôr no posto alguém que, justa ou injustamente, transmite a imagem de que o fará.
Quanto à reforma psiquiátrica, ela é uma obra em andamento. Não há a menor dúvida de que o vetor da tal luta antimanicomial é o correto. Hospitais psiquiátricos com características asilares são mais bem descritos como centros de abuso sistemático de direitos humanos do que como instituições médicas. Acabar com eles é uma medida que faz sentido.
Mas isso não significa que internações por prazos mais dilatados nunca sejam necessárias nem que se deva delegar a saúde mental a ONGs, muitas das quais estão mais interessadas em salvar as almas imortais dos doentes do que seus neurônios mortais. A reforma psiquiátrica foi um passo importante, mas que já exige uma nova reforma.
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