É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Além da imaginação
SÃO PAULO - O caso de Eduardo Cunha é um daqueles que desafiam a imaginação. Ele acaba de se tornar réu num processo por corrupção e lavagem de dinheiro. Também responde a ação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. É um fato documentado que ele mentiu aos colegas sobre suas contas na Suíça, o que, pelos precedentes da Casa, enseja cassação do mandato.
Apesar desse notável currículo, Cunha não apenas tem conseguido evitar o julgamento pelos pares como ainda se mantém no cargo de presidente da Câmara, com o qual tem criado uma série de dissabores para o governo de Dilma Rousseff.
Ressalte-se ainda que Cunha é uma das figuras mais impopulares do país. Pesquisa Datafolha mostrou que 76% dos brasileiros defendem sua saída da presidência da Câmara. Dado que parlamentares, no que é ao mesmo tempo a bênção e a maldição das democracias representativas, devem satisfações a seus eleitores, a resiliência do deputado fluminense torna-se ainda mais incrível.
O segredo do sucesso, penso, está no fato de que Cunha sabe fazer política e conseguiu colocar-se, em diferentes momentos, como peça-chave para os interesses de algum grupo relevante. No início da novela, recebeu apoio da oposição, pois controlava a abertura do processo de impeachment contra Dilma além das pautas-bomba que circulam no Congresso. Em seguida, pelos mesmos motivos, foi paparicado pelos petistas. Hoje, por um efeito paradoxal -a legitimidade do impeachment é posta em dúvida pela população pelo fato de o processo ter deslanchado por decisão de Cunha-, tornou-se um inimigo que convém ao governo manter.
É um equilíbrio precário -e inconfessável para quase todos os envolvidos. É difícil, porém, que persista por um longo tempo. Em algum momento os deputados terão de decidir em voto aberto se Cunha mantém seu mandato, e aí a autopreservação costuma falar mais alto que a lealdade.
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