É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Nibor Dooh
SÃO PAULO - Alguns leitores me escreveram para criticar a coluna publicada na terça-feira (31), em que usei o bom e velho Karl Marx para argumentar que cursos superiores não devem ser financiados com a caixa geral dos impostos. Na opinião desses missivistas, Marx até estava certo no século 19, quando eram próximas de zero as chances de um representante do proletariado chegar à universidade, mas, hoje, diante da maior democratização do acesso, a observação do filósofo alemão já não vale. Será?
Não nego que tenha ocorrido um movimento de massificação do ensino superior, mas ele é incipiente e a coorte dos que chegam às faculdades públicas ainda é bem elitizada em relação à população geral. Um estudo de 2011 da Andifes mostra que 56,3% dos estudantes de universidades federais pertenciam às classes A ou B, quando, no total da população, esse percentual é de 32,9%. No outro extremo, 43% pertenciam às classes C, D ou E, as quais compõem 67% da sociedade brasileira.
Isso significa que, mesmo no século 21, usar o caixa comum para financiar o ensino superior no Brasil configura subsídio dos mais pobres para os mais ricos. E esse, me parece, nem é o argumento central. Mais importante do que a situação do estudante que entra é o que acontecerá com ele depois que concluir seu curso.
O "prêmio" salarial que o sujeito recebe só por ter um diploma universitário é alto no Brasil. Apenas possuir um canudo já garante a seu titular uma renda 160% maior do que a de quem tem apenas o ensino médio. No caso de cursos mais concorridos, como medicina e engenharia, a diferença pode saltar para algo como 15 ou 20 vezes mais.
Se a meta é garantir o acesso de todos e fazer justiça social, torna-se muito mais lógico investir em programas de bolsas de estudo e empréstimos estudantis. Insistir na gratuidade é fazer as vezes de Nibor Dooh, Robin Hood ao contrário.
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