É jornalista cultural há 20 anos e atualmente ocupa o cargo de editor de "Ilustrada". Recebeu o prêmio Esso de criação gráfica como editor do "Folhateen" em 2008. Passou por jornais como "O Estado de S.Paulo" e "Notícias Populares" e revistas como "SuperInteressante". É coautor da biografia "Maldito", sobre Zé do Caixão.
De volta para o passado
Conhece aquela do mineiro que dirigia uma Mercedes? Há cinco anos, o publicitário Walter Abreu levou seu carro a uma oficina em Pinheiros e ouviu um terrível diagnóstico do mecânico: vai demorar um mês para chegar a nova peça.
Momentos depois, chega o tal mineiro, em uma linda Mercedes 1968, branca, modelo 250, seis cilindros. À venda. O publicitário, que nunca havia chegado perto de um antigo, se encantou.
Andou ao redor, pediu para dar uma volta e fechou negócio. "A compra mais instantânea que já fiz na vida", conta.
O carango tinha badulaques inéditos para seus olhos. O pedal do acelerador, por exemplo, quando pisado rapidamente, automaticamente ligava o afogador. Com o carro já quente, um novo toque até o fundo trazia a rotação do motor de volta ao normal.
Outro: não havia freio de mão, mas, sim, um botão acionado com o pé que travava o carro quando estacionado. Para destravar, porém, o botão era no painel, acionado com a mão.
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
"E o quebra-vento? Acho que minha filha de 28 anos nunca havia visto um na vida", empolga-se. "O botão da luz, o pedalzinho que esguicha água e faz um movimento só de vai e volta, a manivela para levantar o vidro manualmente etc.", continua.
"O somatório de todos os pequenos detalhes muda tudo. É como se eu entrasse em um museu. O cheiro do carro antigo te transporta para outra época."
"Todo o meu primeiro plano de visão é diferente quando estou na Mercedes, é tudo antigo, manual, uma relíquia. Você vê o mundo atual de um lugar que não é agora. As crianças dão tchauzinho, as pessoas têm um olhar sempre amigável. Eu me transformo em uma pessoa mais simpática, sabe?"
Esses dias, Abreu foi ao shopping Villa-Lobos e, na volta, encontrou um bilhete no para-brisa. Era do mineiro: "O carro está lindão! Muito bem tratado, está de parabéns! Se quiser vender de volta, liga para mim."
E você acha que o Abreu ligou?
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