Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e em Pequim. Na coluna, fala sobre relações internacionais, com atenção especial ao Oriente Médio. Escreve às segundas, a cada duas semanas.
Coração e o bom samaritano
A mídia britânica se deliciou recentemente com duas histórias. São dramas que envolvem cães, seus tutores e doenças, além de boas ações e do questionamento de uma multa.
Em 2011, Catherine Pipon recebeu um marca-passo.Três anos depois, descobriu que sua cairn terrier Molly, 5, precisava de intervenção para obter o mesmo aparelho.
A mascote embarcou para Londres, deixando para trás a pequena ilha de Jersey, onde vive. Foi em um avião particular. Na clínica veterinária, recebeu o marca-passo, enquanto a dona arcou com os custos totais de 3,5 mil libras (aproximadamente R$ 16 mil).
Ilustração Tiago Elcerdo | ||
Em seus corações, Catherine e Molly carregam aparelhos da mesma marca, mas de modelos distintos —a cachorra ficou com a versão básica. A diferença, no entanto, não impede que as duas compartilhem consultas regulares com o cardiologista Andrew Mitchell, do Hospital Geral de Jersey.
Cadela e dona solidárias na doença. Um fiscal de Heysham, condado de Lancashire, contudo, parece não ter muita solidariedade.
É o que diz Marc Harrison, que encontrou um cão perdido durante uma caminhada por aquele vilarejo no noroeste da Inglaterra. Ele achou um número telefônico na coleira do bicho e ligou para o proprietário, um senhor de 72 anos.
Enquanto Harrison esperava em um parque para devolver o cão, ele foi multado em 85 libras esterlinas. Motivo: cachorros eram proibidos naquela área. E o fiscal não aceitou os argumentos dele de que esperaria durante apenas dois ou três minutos e que estava naquele local a pedido do idoso, que tem dificuldades de locomoção.
O bom samaritano promete recorrer. Robert Claxton, dono do cão resgatado, se prontificou a testemunhar a favor de Harrison, que conseguiu espaço na mídia inglesa com o apelo de clemência. "Eu me sinto punido por ter feito o que era correto", declarou ele. Fim do drama do animal, início de controvérsia sobre as leis humanas.
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