José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.
Ciclistas atropelados
São Paulo precisa da bicicleta. Não é a bicicleta que precisa entrar na cidade. Ela é um eficaz meio de transporte para melhorar a nossa sofrida mobilidade.
A bicicleta vai até a casa das pessoas. Tem capilaridade total. Desempenha papel fundamental no processo de conexão com transportes de alta e média capacidade, como metrô e ônibus.
No entanto, toda vez que ocorre um acidente com bicicleta, fica uma sensação sutil e difusa de que o culpado é o ciclista. Que tenta andar numa cidade que não foi feita para ele.
Este é o erro crucial. São Paulo tem que implantar uma estrutura cicloviária para valer; com ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas, para consolidar o processo. Não, fazer o contrário: repelir a bicicleta com a lógica de que a cidade foi feita para o carro.
Dados apontam 52 mortes em 2012. Uma média de 4 mortes por mês |
Ocorrem cerca de dez vezes mais acidentes com motos do que com bicicletas. Mas ninguém diz que a cidade é inadequada para motos. Elas tomam conta das vias de modo agressivo e muitas vezes irracional. E são aceitas com conformismo inaudito. Motos também são importantes, mas precisam muito mais de uma ação regulatória e de fiscalização do que as bicicletas.
Ciclistas não são todos uns anjos. Há os que se excedem, os que andam na contramão, que infringem a lei de outras formas. Já cruzei com vários. Contudo, representam uma minoria escassa e muito menor do que se comparados aos infratores de carros e de motos.
As grandes cidades só irão resolver os problemas do trânsito e do transporte com sistema que integre todos os meios de forma racional, prática e segura.
Estações integradas sob o mesmo teto, terminais reunindo espaço compartilhado para linhas de ônibus, táxis, bicicletas e estacionamentos para carros, para que esses possam reduzir seus trajetos, e conectar seus usuários aos outros modais, são o caminho de uma rede correta. E a bicicleta é parte inalienável do sistema.
Acidentes com bicicletas irão diminuir drasticamente quando entendermos este conceito.
E a infraestrutura cicloviária tem que começar, prioritariamente na periferia, que é onde as pessoas mais precisam de um meio que as leve de casa até os terminais de ônibus, trem e metrô.
É fora do centro expandido que ocorrem dois terços dos acidentes. Embora sejam os acidentes nas avenidas mais famosas que ganhem maior destaque na mídia. E induzam a esse equívoco brutal de se pensar que São Paulo não é para a bicicleta.
A cidade não está para a bicicleta. Mas é para ela.
E a melhor resposta para os acidentes é a Prefeitura apostar em um plano cicloviário ousado e de rápida implantação. Ele irá comprovar a importância da bicicleta. Que é o que já se impôs, com muito sucesso, em cidades como Nova York, Paris, Londres e Copenhague.
A Prefeitura tem a oportunidade de aprimorar significativamente a mobilidade em São Paulo. E reduzir os acidentes que atingem os ciclistas.
A ficha precisa cair mais rápido.
Adriano Vizoni - 27.fev.10/Folhapress | ||
Ciclovia Rio Pinheiros, que tem maior fluxo no trecho entre a região da Berrini e a Cidade Universitária |
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